A Confissão de Fé de Westminster, um dos mais valorizados Símbolos de Fé das igrejas reformadas, afirma, em seu capítulo vinte e um, que “o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo, e é tão limitado por sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”.
Temos aqui, de maneira bem instrutiva, alguns princípios que, se bem observados e compreendidos com a devida e indispensável iluminação do Espírito Santo de Deus, muito podem nos ajudar a prestar a Deus uma adoração adequada, compatível com a sua glória e majestade; e, sobretudo, em nítida harmonia com as Escrituras Sagradas, suficiente Revelação de Deus para as nossas vidas.
O primeiro princípio presente no aludido capítulo de nossa Confissão de Fé de Westminster é o que aponta para o fato de que Deus é digno de ser adorado; e, de igual modo, nos convoca, solenemente, para o adorarmos num culto público, juntamente com todo o seu povo; os que foram eleitos pelo Pai, redimidos pelo Filho e regenerados pelo poder do Espírito Santo.
Essa adoração pública, manifestada no culto público, é um dever e um privilégio de toda a igreja do Senhor Jesus Cristo. Dever, porque somos chamados por Deus para tal finalidade, não se constituindo, pois, numa opção a ser seguida ou não por nosso arbítrio. Privilégio, porque no culto público, como bem pontua o teólogo presbiteriano Hermisten Maia Pereira da Costa, nós respondemos à santa convocação feita pelo Senhor para o cultuarmos e o adorarmos, de modo amoroso, consciente, humilde, reverente e obediente ao Deus Todo-Poderoso.
Respondemos ao Senhor com as nossas orações e os nossos louvores e a nossa devoção em ouvir-lhe a Palavra; nela meditar com crescente seriedade, desejando ardentemente praticá-la, de modo a não nos tornarmos meros ouvintes, aumentando, dessa maneira, a nossa condenação, conforme bem adverte a inspirada Epístola de Tiago. Tal adoração pública, materializada, convém reiterar, no culto público, radica, primária e fundamentalmente, no ser de Deus e nos inúmeros e magníficos atributos de que ele se acha adornado.
E a razão para tal é que o culto é teocêntrico, não antropocêntrico; seu esteio seminal é Deus, não o homem. Na realidade, ao comparecermos ao culto, devemos fazê-lo primordialmente para adorarmos a Deus, e não para recebermos dele alguma coisa que ele queira bondosamente nos conceder. Óbvio que no culto expressamos a Deus as nossas petições e necessidades, mas elas não são nem devem ser jamais a razão central e a motivação maior de nossa resposta à convocação que Deus nos faz para que o cultuemos.
Assim, somos convocados para adorar a Deus pelo que ele é, primariamente, e, também, pelos seus poderosos feitos, pelo modo sábio, santo e soberano como ele governa a história, de maneira a dar pleno e cabal cumprimento a todos os seus perfeitos e eternos propósitos.
O segundo princípio exarado na parte da Confissão de Fé de Westminster, que discorre sobre o culto público e a adoração ao Senhor, é o que se ampara no fato de que Deus não somente nos convoca para adorá-lo como também nos fornece as diretrizes corretas para fazê-lo, não nos deixando entregues à formulação dos nossos próprios conceitos, ideias e imaginações. A adoração pública, na perspectiva reformada, como se vê, não está confinada nos limites ilimitados da subjetividade humana, daquilo que o homem julga digno de ser oferecido a Deus, com base, tão-somente, nos supostos méritos da sua sinceridade.
O parâmetro aqui é a Palavra do próprio Deus, suficiente e autoritativa para nós, não a nossa sinceridade e os nossos sentimentos, por mais verdadeiros que presumamos que eles sejam. Na verdade, nesse particular, é sempre oportuno termos em mente que o nosso coração é enganoso e desesperadamente corrupto, conforme a contundente sentença do profeta Jeremias.
Mesmo depois de regenerados, nosso coração, muitas vezes, insiste em forjar caminhos inteiramente desaprovados por Deus, principalmente os que dizem respeito à prática de cultos aculturados, humanistas, impregnados de invencionices humanas, as quais justificamos como sendo os únicos meios de nos tornarmos palatáveis à mentalidade pós-moderna vigente em nosso tempo.
Assim, pois, para não nos enredarmos em modalidades cúlticas engendradas e aprovadas por nós mesmos, sem o mais leve exame escriturístico, Deus nos instrui pela sua Palavra a lhe prestarmos uma adoração simples, racional, fervorosa e pautada por suas santas ordenanças. Matéria recente da Revista Época, de larga circulação nacional, diz que certa comunidade evangélica, portadora de tradição histórica, para se ver mais aceita e relevante no meio urbano em que está inserida, trocou a pregação por palestras, termo muito mais amigável, ilustrando-as, sempre que possível, com crônicas literárias de Luís Fernando Veríssimo e letras de canções de Chico Buarque de Holanda. Que tal?
O Deus que quer ser adorado por seu povo estabelece o modo correto de o homem fazê-lo: ouvindo reverentemente a sua Palavra, que deve ser lida e exposta com fidelidade; entoando salmos ou hinos e músicas cujas letras se harmonizem com o caráter de Deus e a sua majestade; orando a ele de conformidade com a sua Palavra. E nada disso exclui alegria, emoção, celebração, fervor. Pelo contrário, devemos cultuar a Deus da forma mais fervorosa possível, sem, no entanto, nos afastarmos dos princípios orientadores que emanam da sua santa Palavra.
O terceiro e último princípio depreendido do citado artigo da Confissão de Fé de Westminster deixa claro que Deus reprova o culto que se presta a ele à revelia do que preceitua a sua Palavra. Quem duvidar disso vá às Escrituras Sagradas e veja que nela há inúmeros exemplos de pessoas que resolveram deliberadamente fazer o que Deus lhes havia proibido, e, por isso mesmo, foram repreendidas pelo Senhor: Caim, Nadabe e Abiú, Arão, pressionado pelo povo, construindo um bezerro de ouro, dentre outros. Deus nos ajude e nos dê a graça de compreendermos e vivenciarmos uma adoração que se coadune com a sábia e santa prescrição das Escrituras Sagradas. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
José Mário da Silva /Presbítero
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