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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Como triunfar sobre as turbulências da vida

Referência: João 14.1-3

INTRODUÇÃO
1.Coração turbado é a coisa mais comum do mundo. Todas as pessoas de todas as classes sociais, de todas as idades e credos religiosos sabem o que é um coração turbado.

2.Nenhuma segurança ou sistema de alarme pode deixar do lado de fora, esse avassalador assaltante da alma. As causas que deixam o nosso coração turbado vêm de dentro e também de fora. Emanam da nossa mente e também do nosso corpo. Vêm daquilo que amamamos e também do que tememos.

3.Mesmo os crentes mais consagrados sabem o que é beber o cálice mais amargo da dor na caminhada entre a graça e a glória. Os santos mais consagrados encontram neste mundo um vale de lágrimas.

4.Jesus estava se despedindo dos seus discípulos. Aquela era a quinta-feira do Getsêmani; a quinta-feira do suor de sangue; a quinta-feira da traição de Judas; a quinta-feira da negação de Pedro; a quinta-feira da prisão de Jesus.
5.Os discípulos estão com o coração turbado:
a)Estavam tristes – devido a iminente partida de Cristo; devido à esmagadora solidão que os atingia.

b)Estavam envergonhados – devido ao egoísmo que haviam evidenciado, perguntando quem era o maior entre eles.

c)Estavam perplexos – devido à predição de que Judas trairia Jesus e Pedro o negaria e os demais ficariam dispersos.

d)Estavam vacilantes na fé – pensando: como pode o Messias ser alguém que vai ser traído?

e)Estavam angustiados – diante das aflições, açoites, perseguições, prisões e torturas que enfrentariam pela frente.

6.Jesus os consola, dizendo-lhes: “Não se turbe o vosso coração”. Como, então triunfar sobre as turbulências da vida?

I. COLOCANDO A CONFIANÇA EM CRISTO APESAR DAS CIRCUSTÂNCIAS – V. 1
1.O que significa confiar em Cristo?
A forma do verbo no indicativo e no imperativo significa: Já que vocês confiam em Deus, continuem confiando em Mim.

Essa não é uma fé apenas uma intelectual – Essa fé não pode nos ajudar na hora da tempestade; isso é apenas conhecimento histórico.

Essa não é uma fé apenas intelectual e emocional – Essa é a fé dos demônios. Eles crêem e estremecem, mas estão perdidos.
Essa não é uma fé na fé – Uma pequena fé no grande Deus vale mais do que uma grande fé no objeto errado. Muitos dizem: Ah! Eu tenho uma grande fé. Confiam na fé que têm, e não no grande Deus.
Essa não é uma fé kierkegaardiana – um salto no escuro.

Confiar em Deus e no seu Filho é crer, confessar e descansar no seu poder, na sua sabedoria, na sua providência, no seu amor, e na sua salvação.

2.A fé em Cristo, o remédio para a doença do coração turbado

As crises vêm. Os problemas aparecem. As tempestades nos ameaçam. Os ventos contrários conspiram contra nós, mas CONTINUEM CONFIANDO EM MIM, disse Jesus! Mc 4:31-35 Jesus perguntou aos discípulos: Por que sois assim tímidos, por que não tendes fé? (Promessa, presença, paz, poder).

As sombras cairão sobre nós. A perseguição virá. A cruz é inevitável, mas CONTINUEM CONFIANDO EM MIM, disse Jesus!



As prisões e os açoites nos alcançarão. O sofrimento e a morte nos apanharão, mas CONTINUEM CONFIANDO EM MIM, disse Jesus!



Virá a solidão, a crise financeira, a doença, o luto, a dor, as lágrimas, os vales profundos, as noites escuras, mas CONTINUEM CONFIANDO EM MIM, disse Jesus!



A cruz será um espetáculo horrendo, os homens me cuspirão no rosto e me pregarão na cruz, mas CONTINUEM CONFIANDO EM MIM, disse Jesus!



A fé em Jesus é o único remédio para um coração turbado. A fé olha para Jesus e não para a tempestade. A fé ri das impossibilidades. A fé triunfa nas crises. Abraão creu contra a esperança. Paulo na hora do martírio disse: Eu sei em quem tenho crido.



II. SABENDO QUE NESTE MUNDO SOMOS PEREGRINSO, MAS O CÉU É O NOSSO LAR – V. 2-3



Diante das provas, das tribulações e do sofrimento, precisamos levantar a cabeça e olhar para a recompensa final. Na jornada cristã é sofrimento, dor, cruz, mas o fim desse caminho, é a glória, o céu. A nossa leve e montânea tribulação produz para nós eterno peso de glória. O sofrimento do tempo presente não pode ser comparado com as glórias por vir a serem reveladas em nós.



Olhar para frente, para o céu, para a nossa recompensa, para a nossa herança, para a nossa Pátria, para o nosso lar nos capacita a triunfar sobre as turbulências da vida.



Como Jesus descreve o céu?



1.O céu é o nosso destino



A morte não é o fim da vida. A morte não tem a última palavra. O aguilhão da morte foi arrancado. Morrer para o crente é lucro. Morrer para o crente é deixar o corpo e habitar com o Senhor. Morrer para o crente é habitar com Cristo. Quando o crente morre ele não para o cemitério, nem para o purgatório, mas para o céu.



2.O céu é um lugar de gozo e descanso



O céu é onde está o trono de Deus. As hostes de anjos e a incontável assembléia dos santos glorificados. O céu é a nossa Pátria. Lá está o nosso tesouro. Lá está o nosso galardão. Lá está a nossa herança incorruptível.



O céu é onde Deus vai enxugar as nossas lágrimas. NO céu é onde vamos entoar um novo cântico ao Cordeiro pelos séculos dos séculos.



Hino Tenho lido da bela cidade



3.O céu é a Casa do Pai



Os filhos de Deus estarão todos lá. Se o céu é a casa do Pai, significa que o céu é o nosso Lar. Aqui no mundo somos estrangeiros, mas no céu vamos estar em casa, na Casa do Pai.



O céu é lugar de segurança – Lá não vai entrar maldiçãi. Lá não tem gente doente, aleijada, ferida, oprimida. Lá não tem cortejo fúnebre.



A Casa do Pai é o lugar onde somos amados e aceitos não pelo que temos, mas por quem somos. A Casa da Pai é o lugar onde somos sempre bem-vindos: Lá ouviremos: Vinde benditos de meu Pai, entrai na posse do Reino…



A Casa do Pai, é onde todos os filhos são tratados sem preconceito, sem acepção.



4.O céu é o lugar onde tem muitas moradas



No céu tem lugar para todos os filhos de Deus. Apocalipse 21:16 diz que a cidade mede 2.200Km de largura e 2.200Km de cumprimento. A lugar para todos.



No céu não teremos apenas moradas, mas mansões. O céu é o lugar da nossa morada permanente. Aqui, n corpo, moramos numa tenda frágil, mas lá, habitaremos as mansões celestiais.



5.O céu é o lugar preparado para um povo preparado



Nós não compramos esse lugar no céu. Nós não o merecemos. Ele nos dá dado como presente. É graça, pura graça.



Jesus preparou esse lugar na cruz, na sua morte, ressurreição, ascensão e intercessão. Lá na cruz Jesus abriu-nos um novo e vivo caminho para Deus. Ele é o caminho, a verdade e a vida e ninguém pode ir ao Pai senão por ele.



Ele entrou no céu como o nosso precursor. Ele nos antecipou. Ele entrou na glória primeiro, como nosso irmão primogênito.



O céu é o nosso lar permanente. Aqui somos peregrinos. Aqui estamos de passagem. Estamos a caminho da glória.



6.O céu é o lugar onde teremos comunhão eterna com Cristo



Hino 102



A maior glória do céu é estarmos com Cristo para sempre e sempre. Vamos contemplar o seu rosto. Vamos servi-lo. Vamos exaltá-lo. A eternidade inteira não será suficiente para nos deleitarmos nele, para exaltarmos sua majestade.



Cristo será o centro da nossa alegria no céu. Lá vamos ver a Jesus como ele é: Lá não haverá mais dor, nem luto, nem tristeza. Lá vamos esquecer as agruras desta vida. Lá não vamos fazer perguntas. Lá vamos adorar com alegria (Lázaro).



Hino: Eu avisto uma terra feliz.



7.O céu é o lugar onde teremos plena comunhão uns com os outros



No céu seremos uma só família. Vamos nos conhecer. Vamos nos relacionar em pleno e perfeito amor. No céu vamos abraçar os patriarcas, os profetas, os apóstolos, os nossos ente-queridos que nos antecederam.



III. SABENDO QUE NÃO ESTAREMOS SOZINHOS, MAS JESUS VOLTARÁ PARA NOS BUSCAR – V. 3



1.Como Jesus virá?



a)Jesus voltará certamente



Ele prometeu. Ele disse: Eu voltarei. Venho sem demora. Eis que cedo venho. Vigiai para que este dia não vos apanhe de surpresa.



b)Jesus voltará pessoalmente



O mesmo que subiu é o que vai voltar, Atos 1:9-11. Voltará entre nuvens. Voltará em glória.



c)Jesus voltará visivelmente



Todo o olho o verá. Todas as nações se lamentarão sobre ele. Ele virá com o clangor da trombeta de Deus. Será o evento mais estupendo da história. Será o dia do fim.



d)Jesus voltará gloriosamente



A última palavra não será do mal. A verdade triunfará sobre a mentira. O ímpio não prevalecerá na congregação dos justos, mas será disperso como a palha. A igreja triunfará com Cristo.



Quando a voz do arcanjo soar e a trombeta de Deus ressoar, Cristo aparecerá nas nuvens como relâmpago, com poder e muita glória. Jesus matará o anticristo com o sopro da sua boca. Ele julgará as nações. Ele lançará os ímpios e o diabo no lago do fogo.



Receberemos um novo corpo e subiremos com ele.



Oh! Que consolo saber que o melhor está pela frente. Que não caminhamos para um fim triste, mas para um fim glorioso, apoteótico.



2. Quando Jesus voltará?



a) Jesus voltará inesperadamente



Muitos serão surpreendidos. Muitos não estarão vigiando. Muitos não estarão preparados (Mt 25:1-11). Muitos lamentarão amargamente por terem vivido desapercebidamente. Será como nos dias de Noé: os homens se casam e se dão em casamento. Será como ladrão: o ladrão não manda aviso prévio.



3.Para que Jesus voltará?



a)Ele virá para nos levar para a Casa do Pai, para as bodas



A primeira fase das bodas é a fase do compromisso;



A segunda fase das bodas é a fase da preparação, o pagamento do dote;



A terceira fase das bodas é a fase do encontro com a noiva;



A quarta fase das bodas é a fase da festa na Casa do Noivo, na Casa do Pai.

CONCLUSÃO

1.Aqueles discípulos abatidos, tristes, turbados foram consolados, revestidos com o poder do Espírito Santo, confiaram em Cristo e proclamaram seu nome.

2.Eles viveram como peregrinos, ajuntaram tesouros no céu, viveram sob as leis do céu, aguardando o céu, preparados para a segunda vinda de Cristo.

3.E você? Está ainda com o coração cheio de temor? Ponha sua confiança em Cristo. Saiba que é só mais um pouco e estaremos indo para a Casa do Pai. Breve Jesus virá nos buscar!

Pastor Hernandes Dias Lopes

terça-feira, 27 de julho de 2010

A briga pelo voto evangélico

Os candidatos à Presidência estão de olho no voto dos evangélicos. Não por acaso. Juntos, os evangélicos representam cerca de 25% do eleitorado brasileiro, que é de 135 milhões de pessoas. Ou seja, uma massa de 33 milhões de eleitores.
Na corrida por essa encorpada fatia do eleitorado, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) estão na frente. Eles brigam ferozmente pelo apoio das gigantes Assembleia de Deus e Igreja Universal. Ironicamente, a candidata do PV, Marina Silva, única evangélica da disputa, é quem tem mais dificuldades para costurar apoios com uma das frentes religiosas.
O maior imbróglio está na Assembleia de Deus. A igreja é dividida em duas partes – a Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil (Ministério de Madureira) e a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). No total, a instituição conta com 16 milhões de seguidores, sendo que a corrente majoritária, a CGABD, liderada pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, conta com 10 milhões. Neste campo, é o tucano José Serra quem tem vantagem, já que é amigo do pastor e contou com seu apoio no segundo turno das eleições de 2002.
De acordo com o presidente do Conselho de Comunicação da CGADB, pastor Mesquita, a Assembleia de Deus “não apoia nenhum candidato oficialmente”. Ele afirma que a ala majoritária “demonstra apoio a José Serra e proximidade com ele”. “Há uma resistência da CGADB a Dilma Rousseff, que é muito progressista e liberal em assuntos como aborto e casamento gay. Não negamos direitos a niguém. Eles [os homossexuais] têm direito de fazer o que quiserem, mas não absorvemos essas ideias e somos totalmente contrários a elas”.
A outra ala da Assembleia de Deus, conhecida como Ministério Madureira, conta com 6 milhões de seguidores e está com Dilma. Neste sábado, o deputado federal Pastor Manoel Ferreira (PR-RJ), líder da convenção nacional, organizou um evento em Brasília com fieis de diversas igrejas evangélicas para apoiar a petista, como Assembleia de Deus, Sara Nossa Terra e Igreja Universal do Reino de Deus. Segundo o deputado-pastor, o apoio à ex-ministra foi negociado e eles teriam recebido a promessa de Dilma de que um eventual governo petista deixaria questões polêmicas como a legalização do aborto e a união civil entre homossexuais para serem discutidas apenas pelo Congresso.
A escolha de Marina – Enquanto isso, a candidata do PV à Presidência, Marina Silva, não encontra apoio oficial nem mesmo na igreja à qual pertence. A verde é da Assembleia de Deus desde 1997 e, segundo a CGADB, “a igreja deveria ter amadurecimento para anunciar um apoio oficial a Marina”. Segundo representantes da convenção, a igreja poderia exigir dela um governo norteado pelos “ensinamentos cristãos”. Mas não foi isso que aconteceu.
A assessoria de Marina Silva, por sua vez, afirma que a candidata defende um estado laico e não discrimina a fé. “Marina reconhece que os evangélicos são um público a quem ela deve atenção por fazer parte dele, mas não faz um direcionamento específico para nenhum grupo religioso”.
Universal e a confusão de Dilma – A ex-ministra ganhou – mais uma vez – uma herança do governo Lula: o apoio da Igreja Universal. Com 13 milhões de fieis, a instituição apoiou Lula em 2002 e 2006. Um dos elos de Dilma com a igreja é o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) que, de acordo com sua assessoria, tem uma amizade “antiga e pública” com o presidente Lula. Além disso, quando defende a ideia de que o aborto deve ser tratado como questão de saúde pública, e não rejeitado por princípio, a candidata petista não se choca frontalmente com os preceitos do líder da Universal, o pastor Edir Macedo, que se diz favorável à prática em diversas situações.
Essa não é, obviamente, a posição da Igreja Católica. Nesta semana, o bispo de Guarulhos (SP), dom Luiz Gonzaga Bergonzini, defendeu o boicote à candidatura de Dilma por considerar que o PT é a favor da interrupção da gravidez. Para tentar resolver esse impasse,Lula inteveio: nomeou seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, um ex-seminarista, para aproximar a petista da Igreja Católica.

Fonte: Revista Veja

Como cristão evangélico e pastor me sinto horrorizado com tudo isso.
Igrejas não têm o direito de negociarem apoio com quem quer que seja, não pode tratar suas denominações como um “curral eleitoral”, vendendo as consciências de seus membros, como se tivessem poder para isso. O Povo de Deus é livre e pertence unicamente ao Senhor Jesus Cristo, e não a esses ditos líderes que estão olhando apenas para seus interesses denominacionais, políticos e pessoas. E muito menos ainda a um partido que historicamente tem se oposto as principais bandeiras do cristianismo, no que diz respeito à família e a vida! É uma verdadeira vergonha!Como disse Jesus: ”quando o Filho do Homem voltar, por ventura encontrará fé na Terra?

Pr. Euder Faber / Presidente da Vinacc

Religião e Divórcio segundo A Folha de São Paulo

A Folha de São Paulo traz hoje um artigo intitulado "Religião não evita fim do casamento". Após cruzamento de dados entre o número de mulheres desquitadas, divorciadas e separadas com a religião à qual elas declararam pertencer, o achado da Folha foi que o número de mulheres divorciadas é proporcionalmente o mesmo em todas as religiões, desde católica até afro-brasileira, passando pelas evangélicas e pentecostais. A conclusão da Folha, portanto, é que religião não segura casamento.
Pessoalmente, eu não me surpreenderia se a pesquisa fosse confiável e os evangélicos tradicionais estivessem incluídos nestas estatísticas. Infelizmente, muitas igrejas evangélicas tradicionais já desistiram a muito de manter o padrão bíblico do casamento conforme a Bíblia ensina e reconhecer como causa de divórcio somente o que a Bíblia prescreve. Hoje, pastores e igrejas casam e descasam por qualquer motivo, numa flagrante desobediência à Palavra de Deus.
Mas, questiono a exatidão da pesquisa da Folha. Ela comete um erro fundamental, que é tratar todos os que declararam ser evangélicos (ou de qualquer outra religião) como se eles tivessem o mesmo compromisso com o Cristianismo bíblico. Notadamente, como também acontece com as demais religiões, existe um número enorme de pessoas que se declaram evangélicas mas que só aparecem nas igrejas aos domingos ou nas datas festivas (Natal, Páscoa, Ano Novo, etc.). São pessoas sem o menor compromisso com o ensino das Escrituras, especialmente no que diz respeito ao casamento.
Imagino que os números seriam bem diferentes se a pesquisa considerasse as mulheres divorciadas e separadas de entre aquelas que são evangélicas praticantes de igrejas onde se ensina que o casamento é uma instituição divina e que divórcio só em caso de adultério e abandono obstinado.
Mas aí, reconheço que uma conclusão válida do estudo da Folha seria que as igrejas evangélicas estão fracassando em doutrinar e convencer seus membros quanto à seriedade do casamento.
Tudo isto considerado, não se pode negar que vivemos dias difíceis.

Pr. Augustus Nicodemus - O Tempora, O Mores

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Um dom de Deus chamado amigo!

Certa feita, uma moça membro de minha igreja, quando chegava à Escola Dominical, recebeu um telefonema de uma pessoa que gritava dizendo que sua tia tinha sido seqüestrada. A menina ficou completamente desesperada chorando compulsivamente em virtude da notícia recebida. Claro que tudo não passava de um trote, no entanto, até que a verdade viesse à tona, nossa irmã em Cristo vivenciou momentos de intenso desespero.

No culto da noite depois que tudo se esclareceu, a moça me solicitou que a permitisse compartilhar com a igreja o episódio da manhã. Ao fazê-lo, trouxe prioritariamente ênfase àqueles que durante a ebulição do suposto problema se colocaram ao seu lado ajudando-a a agir de forma prática e racional. Seu discurso final foi: Como é bom ter amigos! Seu testemunho enfatizou a importância de se ter amigos, os quais se fazem presentes em todas as circunstâncias da vida.

Caro leitor, a palavra AMIGO possui a mesma raiz etimológica da palavra AMOR, o que nos leva a entender que é impossível ter amigos sem amar, até porque, não se pode jamais separar afetividade de companheirismo, amor de amizade, carinho de fraternidade. Cristo em sua infinita graça, além de nos proporcionar a vida eterna, nos concedeu a regalia de desfrutarmos da “Communion Sanctos”. Através do relacionamento com irmãos queridos na Casa do Senhor, consolamos e somos consolados, ajudamos e somos ajudados, rimos e choramos, festejamos e lamentamos.

Sem sombra de dúvidas a existência de amigos verdadeiros nos fazem desfrutar de momentos extremamente abençoados. Como bem dizia Vinicius de Moraes, a gente não faz amigos, reconhece-os.

Que tal escrever ou telefonar para os seus amigos dizendo-lhes o quão importantes são na sua vida e história? Como bem falou Renato Russo, É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã" , até porque a vida passa rápido e quando a gente menos percebe o tempo se foi, e aí em algumas situações pode ser tarde demais.


Pense nisso!

Renato Vargens

http://www.vinacc.org.br/

A restauração do povo de Deus

Referência: Joel 2.12-17

NTRODUÇÃO

Hoje quero falar sobre a necessidade da restauração da igreja. Deus chamou a igreja do mundo para enviá-la de volta ao mundo como luz. A igreja é tão diferente do mundo como a luz é diferente das trevas. A igreja não foi chamada para ser influenciada pelo mundo. Ela não foi chamada para imitar o mundo. Ela não foi chamada para amar o mundo.
Mas a igreja hoje está exatamente como o povo de Israel, imitando a vida dos povos ao seu redor. Por isso, a igreja tem perdido o seu poder espiritual. Martyn Lloyd-Jones diz que só vamos influenciar e ganhar o mundo quando formos exatamente diferentes do mundo. No Brasil a igreja evangélica está crescendo mas não influenciando o mundo. A igreja tem extensão, mas não profundidade. Tem números, mas não santidade. Tem quantidade, mas não qualidade.
A igreja está se acostumando com o pecado. E o pecado atrai a ira santa de Deus. O pecado provoca o juízo de Deus. O profeta Joel está tocando a trombeta do juízo de Deus no capítulo 2. Os gafanhotos, a seca, a fome e os exércitos invasores estão assolando Israel. Essa trombeta fala do juízo de Deus.

I. A RESTAURAÇÃO COMEÇA COM A CONSCIÊNCIA DA CRISE QUE NOS CERCA – v. 1-11

O profeta Joel entende que a crise é resultado do pecado do povo e do juízo de Deus contra o pecado. Como Deus vê a igreja hoje? Tem Deus prazer na vida do seu povo ao ver a sua infidelidade? Tem Deus prazer na vida do seu povo ao ver que as coisas do mundo nos atrai mais do que as coisas do céu. Tem Deus prazer na sua igreja ao ver que os crentes tem perdido seus absolutos, tem imitado o mundo e vivido apenas um religiosismo sem vida, sem santidade e sem poder?

Deus não se impressiona com formas, com programas, com ritos, com cerimônias. Ele busca um povo santo, piedosos, fiel. Há pecados na igreja: 1) Falta de consistência espiritual – piedade na igreja e mundanidade em casa; 2) Falta de fervor espiritual – cansaço com as coisas de Deus e entusiasmo com as coisas do mundo. Falta de oração. Analfabetismo bíblico; 3) Falta de pureza moral – Crentes que abrigam imoralidade no coração, com pornografia, com namoros impuros, com festas mundanas; 4) Falta de amor nos relacionamentos – Crentes que são insubmissos aos pais, que são insensíveis com o cônjuge, que são frios no trato uns com os outros. 5) Falta de fidelidade na mordomia dos bens – Crentes que amam mais o dinheiro do que a Deus. Crentes que sonegam os dízimos, que roubam de Deus, que não investem no Reino.
A restauração passa pela consciência da crise. A igreja está como Ziclague, ferida e saqueada pelo inimigo. A igreja parece com Sansão, um gigante que ficou sem visão e sem forças. Escândalos vergonhosos têm acontecido dentro das igrejas. A igreja está em crise na doutrina, na ética e na evangelização.
O pecado nos torna fracos e afasta de nós a presença poderosa de Deus. Daí o começo da restauração passar pela consciência da crise

II. A RESTAURAÇÃO VEM COMO RESULTADO DE UMA VOLTA PARA DEUS – v. 12-17

Qual é o processo dessa volta para Deus?
1.É uma volta para uma relação pessoal com Deus – v. 12 “Convertei-vos a mim”

O caminho da restauração é aberto quando voltamos as costas para o pecado e a face para Deus. Não é apenas um retorno à igreja, à doutrina, a uma vida moral pura, mas uma volta para uma relação pessoal com Deus. Os fariseus amavam mais a religião do que a Deus. Eles estavam mais apegados aos costumes religiosos do que a comunhão com Deus.
A maior prioridade da nossa vida é Deus. Fomos criados para glorificarmos a Deus e desfrutarmos da sua intimidade. Hoje buscamos as bênçãos de Deus e não o Deus das bênçãos. Corremos atrás da bênção e não do abençoador. O nosso alvo é satisfazer a nós mesmos e não voltarmo-nos para o Senhor.
Temos muita religiosidade e muito pouca intimidade com Deus. Conhecemos muito acerca de Deus, e muito pouco a Deus. Estamos envolvidos com a obra de Deus, mas não temos intimidade com o Deus da obra. Somos ativistas, mas não nos assentamos aos pés do Senhor. Deus está mais interessado em nossa relação com ele do que no nosso trabalho. Exemplo: Quando Jesus foi restaurar Pedro ele lhe deu uma lista de coisas para fazer, mas lhe perguntou: tu me amas? A volta para Deus é o primeiro degrau na estrada da restauração.

2.É uma volta com sinceridade para Deus – v. 12 “de todo o vosso coração”

Há muitos crentes que fazem lindas promessas para Deus depois de um retiro, depois de um congresso, depois de um culto inspirativo, mas logo se esquecem dos compromissos assumidos. O amor deles é como o orvalho, logo se dissipa. Os votos assumidos no altar de Deus, com lágrimas, já são esquecidos no páteo da igreja.
O nosso cristianismo tem sido muito raso. Cantamos hinos de consagração, mas não nos consagramos ao Senhor. Cantamos que queremos ser um vaso de bênção, mas nos omitimos de falar de Jesus. Pedimos para que Jesus brilhe sua luz em nós, mas apagamos nossa luz imitando o mundo em nosso comportamento. Cantamos “tudo a ti Jesus entrego, tudo, tudo entregarei”, mas retemos os dízimos e as ofertas e fechamos o nosso coração ao necessitado. Honramos a Deus com os nossos lábios, mas o negamos com as nossas obras.
Há aqueles que só andam com Deus na base do aguilhão. Só se voltam para Deus no momento em que as coisas apertam. Só se lembram de Deus na hora das dificuldades. Não se voltam para Deus porque o amam ou porque estão tristes com os seus pecados, mas porque não querem sofrer. A motivação da busca não está em Deus, mas neles mesmos. O centro de tudo não é Deus, mas o eu. Precisamos nos voltar para Deus para veler. Deus não aceita apenas uma religião formal, uma reforma exterior, um verniz espiritual.

3.É uma volta com diligência para Deus – v. 12 “e isto com jejuns”
Qual foi a última vez que você jejuou para buscar a Deus? Jejum não é greve de fome, não é regime para emagrecer, não é ascetismo nem meritório. O jejum é instrumento de mudança. Ele muda a nós, não a Deus.
Devemos jejuar para Deus. Devemos jejuar para nos humilharmos diante do Senhor. Devemos jejuar para reconhecermos a falência dos nossos recursos. Devemos jejuar para buscarmos o socorro de Deus. O povo de Deus sempre jejuou. Quem jejua tem pressa. Quem jejua está ansioso por ver a intervenção de Deus.
Josafá convocou a nação de Judá para jejuar e Deus libertou o seu povo das mãos do adversário. Nínive jejuou e Deus lhe concedeu libertação. Ester jejuou com o seu povo e Deus poupou a nação de um holocausto.

Em 1756 o rei da Inglaterra convocou um dia solene de oração e jejum por causa de uma ameaça por parte dos franceses. João Wesley comentou as igrejas ficaram lotadas. A humilhação foi transformada em regozijo nacional porque a ameaça da invasão foi impedida.

Visitei em 1997 a maior Igreja Metodista do mundo com 87 mil membros. O pastor fundador da igreja nos disse que os dois momentos mais significativos da igreja, foi quando ele se dedicou intensamente ao jejum.
Quem jejua tem mais pressa em acertar a sua vida com Deus do que saciar as necessidades do corpo. Hoje os crentes têm pressa para correr atrás de seus próprios interesses. Precisamos de restauração.

4.É uma volta com quebrantamento para Deus – v. 12 “com choro e com lágrimas”

O povo de Deus anda com os olhos enxutos demais. Muitas vezes desperdiçamos nossas lágrimas, chorando por motivos fúteis demais. Outras vezes queremos remover o elemento emocional do culto. É por isso que estamos secos. Não choramos porque estamos endurecidos.
Temos chorado como Jacó no vau de Jaboque buscando uma restauração em sua vida (Os 12:4)? Temos chorado como Davi chorou ao ver sua família saqueada pelo inimigo? Temos chorado como Neemias chorou ao saber da desonra que estava sobre o povo de Deus? Temos chorado como Jeremias chorou ao ver os jovens da sua nação desolados, vencidos pelo inimigo, e as crianças jogadas na rua como lixo? (Lm 1:16: 2:11). Temos chorado como Pedro por causa do nosso próprio pecado de negar o Senhor? Temos chorado como Jesus ao ver a impenitência da nossa igreja e da nossa cidade (Lc 19:41)?
Conhecemos o que é chorar numa volta para Deus? Nosso coração tem se derretido de saudades do Senhor?

5.É uma volta com sinceridade para Deus – v. 13 “Rasgai o vosso coração e não as vossas vestes”

Nessa volta para Deus não adianta fingir. O Senhor não aceita encenação. Ele não se impressiona com os nossos gestos, nossas palavras bonitas, nossas emoções sem quebrantamento. Diante de Deus as máscaras caem. Ele vê o coração.
Para Deus não é suficiente apenas estar na igreja, ter um culto animado. É preciso ter um coração rasgado, quebrado, arrependido e transformado.
Como é triste ver pessoas que passam a vida toda na igreja e nunca foram quebrantadas. Passam a vida toda representando um papel de santidade, mas são impuros. Fazem alarde da sinceridade, mas interiormente são hipócritas. Advogam fidelidade, mas no íntimo são infiéis.

6.É uma volta urgente para Deus – v. 12 “Ainda assim, agora mesmo”
A despeito da crise devemos nos voltar para Deus. A crise não deve nos empurrar para longe de Deus, mas para os seus braços. A frieza da igreja não deve ser motivo de desalento, mas de forte clamor e profunda determinação para nos voltarmos para Deus.

Os tempos de restauração vem depois de um tempo de sequidão. O tempo de nos voltarmos para Deus é agora. A restauração é para hoje. O tempo de Deus é agora. Não podemos agir insensatamente como Faraó, pedindo a restauração da sua terra do juízo de Deus para amanhã (Ex 8:8-10). Muitos crentes estão também adiando a sua volta para Deus. AGORA é o tempo da graça e o tempo da visitação de Deus. AGORA é o tempo aceitável.
O acerto de vida com Deus é urgente. O profeta Joel ordena: “Tocai a trombeta em Sião” (2:15). A trombeta só era tocada em época de emergência. Mas a trombeta é tocada em Sião e não no mundo. O juízo começa pela casa de Deus (1 Pe 4:17). Primeiro a igreja precisa voltar-se para o Senhor, depois o mundo o fará. A restauração começa na igreja e pela igreja e ela atinge o mundo. Quando a igreja acerta a sua vida com Deus, do céu brota a cura para a terra (2 Cr 7:14).

III. A RESTAURAÇÃO VEM COMO RESPOSTA DA BENIGNIDADE DE DEUS – V. 13-14
1.A restauração é resposta da misericórdia de Deus – v. 13 “porque ele é misericordioso…”
Podemos esperar um tempo de restauração da parte do Senhor porque ele é infinitamente misericordioso. Ele tem prazer em perdoar. Ele tem prazer em restaurar. Na ira ele se lembra da sua misericórdia. Ele volta o seu rosto para nós.
A esperança da restauração está fundamentada no gracioso caráter de Deus. Deus é misericordioso. Ele é compassivo. Ele é tardio em irar-se. Ele é grande em benignidade. Ele se arrepende do mal.

2.A restauração é resposta do pacto de Deus conosco – v. 13 “convertei-vos ao Senhor, vosso Deus”
O povo havia se desviado de Deus, mas ainda era o povo de Deus. Deus continua interessado na restauração do seu povo e ainda está comprometido com o seu imutável amor e propósito. Devemos nos voltar para Deus como o Deus do pacto. Ele é fiel. Ele jamais cessou de nos buscar, nos atrair, de nos chamar para ele. Somos o seu povo.

IV. A RESTAURAÇÃO PASSA POR UMA VOLTA DO POVO TANTO COLETIVA COMO INDIVIDUAL AO SENHOR – V. 15-17
Ninguém pode ficar de fora dessa volta para Deus. Todo o povo deve ser congregado. Toda a congregação deve ser santificada. Todavia o profeta começa a particularizar os que devem fazer parte dessa volta:

1.Os anciãos devem se voltar para Deus – v. 16 “ajuntai os anciãos”
A liderança precisa estar na frente, puxando a fila daqueles que têm pressa de voltarem para Deus. Os líderes são os primeiros a acertarem suas vidas com Deus. Os anciãos são os primeiros a colocarem o rosto em terra.
A igreja é um retrato da sua liderança. Ela nunca está à frente dos seus líderes. Os líderes devem ser os primeiros a se voltarem para Deus com choro, com jujum, com o coração rasgado.

2.Os jovens devem se voltar para Deus – v. 16 “reuni os filhinhos”
As pressões sobre os jovens são muito grandes. Faraó tentou reter os jovens no Egito. Sansão deu uma festa regada a vinho porque era o costume dos jovens da sua época. Precisamos de jovens como José que preferem a prisão do que o pecado. Precisamos de jovens como Daniel que resolvem firmemente não se contaminarem. Precisamos de jovens como Timóteo que permanece nas Sagradas letras.
O lugar de jovem curtir a vida é no altar de Deus. Só na presença de Deus há plenitude de alegria. Ilustração: Minha experiência na Igreja de Uberlândia.
A volta para Deus é mais urgente para os jovens do que o casamento. “Saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu aposento”.

3.As crianças devem se voltar para Deus – v. 16 “reuni os que mamam”

Até mesmo as nossas crianças precisam ser desafiadas a se voltarem para Deus. Precisamos trazer os nossos filhos à Casa de Deus e ensiná-los a buscarem ao Senhor. Não podemos entregar os nossos filhos à babá eletrônica. Temos que criá-los aos pés do Senhor e para a glória do Senhor.

4.Os ministros devem se voltar para Deus – v. 17 “Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor… e orem: Poupa o teu povo, ó Senhor…”
Nós pastores precisamos aprender a chorar pelo povo. Temos feito a obra de Deus com os olhos enxutos demais. Não podemos nos conformar com a crise. Não podemos nos conformar em ver a sequidão espiritual do povo de Deus. O choro precisa começar com os pastores. Os líderes precisam chorar e orar.
Quando perguntaram para Moody qual era o maior obstáculo da obra, ele disse: “O maior obstáculo da obra são os obreiros.” Estamos vivendo uma crise pastoral no Brasil. Precisamos nos voltar para Deus e precisamos chorar por nós mesmos e pela vida do povo de Deus.

V. A RESTAURAÇÃO PRODUZ RESULTADOS EXTRAORDINÁRIOS NA VIDA DO POVO DE DEUS – V. 18-32

1.Quando Deus restaura a igreja, ele muda a sua sorte – v. 18-27
Quando a igreja se volta para Deus e acerta sua vida com ele, ele se compadece do seu povo: ao invés de fome, há fartura (2:19,24). Ao invés de opresssão do inimigo, há libertação (2:20). Ao invés de seca, há chuvas abundantes (2:23). Ao invés de prejuízo, há restituição (2:25). Ao invés de vergonha, há louvor (2:26). Ao invés de lamentaçãoi e de solidão, há a plena consciência de que Deue está presente (2:26,27).

2.Quando Deus restaura a igreja, ele derrama sobre ela o Seu Espírito – v. 28-32

O derramamento do Espírito não vem antes, mas depois que o povo se volta para Deus. O derramamento é uma bênção abundante, segura e restauradora que vem sobre trazendo vida, vigor e poder para a igreja.

O Espírito desceu no Pentecoste e a igreja saiu das quatro paredes para impactar o mundo. Antes os crentes estavam com medo dos judeus. Agora os judeus é que ficaram com medo dos crentes. Quando nos voltamos para Deus, ele se volta para nós e restaura a nossa sorte.

Pastor Hernandes Dias Lopes

sábado, 17 de julho de 2010

Direto dos porões do Regime Comunista

As paredes da prisão falam*

Fui conduzido ao longo do corredor até a cela de número 21. A chave volumosa rangeu na fechadura e fui empurrado para dentro. E, mais uma vez, fui afastado do mundo exterior. Na cela havia um jovem, chamado Tsonny que me disse estar ali por três meses, sem nunca lhe haverem dado o motivo para o seu encarceramento. Em um canto da cela, havia um balde que, pelos seis meses seguintes, seria nossa privada. Esses baldes eram uma característica padronizada da vida na prisão. Eram esvaziados apenas raramente e, às vezes, transbordavam. Por muitas vezes, levaram a tampa, e o mau cheiro era insuportável. Havia somente o cimento frio do chão para dormimos; e as paredes eram de pedra encardida. Elas estavam repletas de lemas, orações, slogans e citações, rabiscadas na superfície, com algum objeto duro, por ocupantes anteriores.

As paredes eram quase um diário ou crônica de condenados. Em certos lugares, as paredes pareciam ter sido pintadas de vermelho escuro; mas, sob um exame minucioso, percebi que aquele vermelho não era tinta. Era sangue de inúmeros percevejos que, enquanto se arrastavam pelas paredes, tinham sido mortos por outros prisioneiros.

As “paredes vermelhas” de outras celas também se tornariam uma visão comum, nos anos seguintes. Naquela primeira noite na DS, matei quinhentos e trinta e nove percevejos, muitos dos quais tinham sugado meu sangue. Para desviar nossos pensamentos da situação, Tsonny e eu contamos (Nunca mais tentamos isso!).

Nas paredes, podíamos ler as aflições e anseios dos prisioneiros anteriores. Eu quase podia descrever a personalidade, os pesadelos, as esperanças e os sonhos deles refletidos naquelas escritas tristes.

Uma das escritas dizia: “Quando você entrar aqui creia em Deus e ore a Santa Teresa”; evidentemente, isso havia sido gravado por um católico romano. Uma elegia de Pushkin estava escrita em russo, em todo o comprimento da parede. Continha três versos, os quais memorizei. Por cima da porta, alguém rabiscara um antigo provérbio latino: “Dum spiro spero”, que significa: “Enquanto eu respirar, esperarei”. Senti que conhecia os ocupantes anteriores daquela cela, devido aos rabiscos na parede.

Quantas narrativas de bravura humana, desespero e sonhos despedaçados pude ver nas paredes daquela cela e de incontáveis outras durante treze anos.

Criei a prática de escrever versículos da Bíblia e palavras de consolo nas paredes de cada cela que ocupasse, na esperança de que tais palavras proporcionariam consolo e ajuda aos próximos ocupantes.

As paredes das celas não foram somente o “papel” no qual eu rabisquei versos bíblicos, mas também foram, mais tarde, “tábua de ressonância” do “Telégrafo da prisão”, pelo qual eu enviava mensagens da Palavra de Deus aos homens das celas adjacentes.

Quão admirável e justo, pensava eu, era que as paredes erguidas para aprisionar homens se tornassem “papel” para a Palavra de Deus e “fio” para o Telégrafo da Prisão, a fim de transmitirem as boas novas.

Mas, visto que aquela era a primeira vez em que passava por tal provação e que a primeira semana fora tão chocante, foi-me difícil preservar coragem.

Todos os prisioneiros garantem que os primeiros meses são sempre os piores. Eu pensava comigo mesmo: “Se o homem que rabiscou na parede as palavras ‘Enquanto eu respirar, esperarei’, pôde manter viva a sua esperança, certamente eu, que sou crente, poderei colocar toda a minha vida nas mãos de Deus”. Preguei um sermão para mim mesmo e me senti melhor. Embora não soubesse o que aconteceria naquele dia, senti segurança, serenidade e paz em meu coração. Assim como o apóstolo Paulo, eu resolvera que ficaria “contente em toda e qualquer situação”.

Passei exatamente cinco meses na cela 21, de 1º de agosto a 31 de dezembro. A cela 21, na “Casa Branca” da DS, tornou-se uma “Câmara de tortura” para mim. Cada vez que penso naquela cela, um frio me perpassa a espinha. Em 2 Coríntios 12.4, o apóstolo Paulo falou sobre “palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir.” Contudo, eu gostaria de falar sobre o indescritível sofrimento que é difícil de ser expresso em linguagem humana ou na forma escrita.

Visto que eu me sentia exausto por ficar de pé cada noite, por uma semana, deite-me sobre o assoalho frio e me estiquei. Repentinamente, havia um estalido fortíssimo, como se um tiro de rifle automático tivesse sido dado no corredor. “Que foi isso?” perguntei a Tsonny. Ele sorriu e explicou que o ruído era feito intencionalmente pelos guardas, a fim de assustar os prisioneiros e impedi-los de dormir. O ruído era feito com um golpe forte de uma barra de ferro, dado nas portas das celas; isso produzia ruídos como de um tiro de rifles. Naquela noite, foi repetido a cada dez minutos; e por todas as noites, durante cinco meses. Era quase impossível dormir, e esse era, exatamente, o motivo tencionado.

Na manhã de 2 de agosto, fui levado de minha cela a um confortável escritório, no andar térreo. Para minha surpresa, encontrei ali um jovem que eu conhecia bem. Seu nome era Veltcho Tchankov. Meu coração saltou de alegria quando vi aquele jovem! Eu o conhecia desde que ele era menino.

Também sabia que ele era comunista. Quando os comunistas chegaram à Bulgária, nos calcanhares do Exército Vermelho, em 1944, Veltcho se unira imediatamente a eles. Nos três anos seguintes, ele se tornara o chefe da Polícia Secreta de Burgas. Apesar das diferenças de nossa maneira de viver, há muitos parecia que tínhamos uma espécie de respeito mútuo. Portanto, alegrei-me por vê-lo novamente e pensei que aquele seria o primeiro raio de esperança, desde meu aprisionamento. Mas, como ele havia mudado! Um mês depois, fiquei sabendo que Veltcho, meu “velho amigo”, fora o organizador de toda a campanha contra os pastores evangélicos! Eu vi o que o poder é capaz de fazer com um homem.

Quando os comunistas estão fora do poder, freqüentemente se mostram cordiais, cooperadores e brandos! Mas, se chegarem ao poder, veremos o que eles realmente são! Aqueles que “brincam” com o comunismo devem lembrar-se da história de Veltcho, o “gentil” comunista que obteve poder.

Os partidos comunistas quando estão fora do poder parecem propositalmente “razoáveis” e gentis; mas, logo que chegam ao poder, revelam a sua verdadeira natureza. As prisões estavam repletas de pessoas que pensavam que os comunistas eram somente outro partido político.

Muitas pessoas que diziam serem os comunistas “apenas outro partido político”, e que os toleravam, foram executadas quando eles tomaram o poder. Os países ocidentais que toleram partidos comunistas devem tomar cuidado! Aqueles “pequenos” partidos talvez pareçam brandos agora, mas, se conquistarem o poder, esses países verão a verdadeira natureza dos comunistas, assim como aconteceu conosco!

Eu disse: “Veltcho, é ótimo vê-lo novamente.” Ele me olhou com hostilidade e disse: “Conhecemo-nos um ao outro, Popov, e eu lhe aviso que, se quiser ver novamente sua esposa, terá de fazer exatamente o que lhe disser.”

“Mas, o que fiz eu, Veltcho?”

Ele replicou, gritando: “Nunca me chame de Veltcho, novamente. Sou o Camarada Tchankov, e você é o prisioneiro Popov. Nunca esqueça isso!”

Ele prosseguiu: “Você precisa reprovar os seus crimes. Se confessar isso será muito fácil para você. O Governo do Povo é muito clemente, e perdoaremos todos os seus crimes. Sabemos que você é uma pessoa boa, mas terá de conforma-se a nós e à nova sociedade que estamos erigindo”.

Eu ouvi estas palavras – “terá de conforma-se a nós”, durante treze anos. Em seguida, uma torrente de palavras fluiu dos lábios de Veltcho.

“Repito: Você precisa conforma-se a nós e confessar os seus crimes!”, gritou ele. “Se você se recusar a obedecer-me, estará fazendo o pior erro de sua vida; e só terá de lamentar-se. Aprenderá que não estamos brincando e não permitiremos que você se transforme em um mártir religioso. Você gostaria disso, não é mesmo, Popov? Pois bem, não vamos lhe dar essa chance. Se fizéssemos de você um mártir religioso, isso fortaleceria os cristãos. Não permitiremos que isso aconteça. Você pensa que somos estúpidos? Vamos caluniá-lo e difamá-lo até os cristãos mencionarem seu nome com desgosto”.

Fiquei espantando ante as palavras de Veltcho. Seu plano era diabolicamente astuto e ele falava como um homem insuflado pelo maligno.

Eu repliquei: “O povo da Bulgária me conhece. Eles saberão a verdadeira razão.” Veltcho apenas riu. Mais tarde percebi que eu estava lutando contra especialistas em fazerem o preto branco, e a verdade parecer mentira.

Os nazistas eram cruéis, mas os comunistas são cruéis e diabolicamente astutos. Na prática, esta é a verdadeira diferença entre os nazistas e os comunistas. As ameaças de Veltcho se cumpriram mais tarde, com precisão matemática, ponto a ponto.

Veltcho ordenou-me que voltasse à cela. Retornei em completo desespero. Contei a Tsonny a conversa que tivera com Veltcho. Ele me aconselhou a nunca confessar qualquer coisa que eu não tivesse feito. O conselho era bom, mas impossível de ser erguido nos meses que se passariam.

Sentei-me, quase atordoado. Eu pensara que os comunistas eram apenas homens mal orientados. Mas aquele encontro com Veltcho me abalou profundamente. Percebi que estava combatendo a astúcia e a maldade do próprio Satanás. Pela primeira vez, a enormidade do que eu enfrentava e a astúcia daqueles homens diabolicamente inspirados me atingiram.

*Artigo extraído do livro “Torturado por sua fé”, de Haralan Popov. Ed. Fiel – SP. Pg. 23-27.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Lula quer estatizar os nossos filhos

Lula quer estatizar os nossos filhos; Não só isso: Quer punir os pais decentes, já que os indecentes continuarão a fazer o que fizerão sempre.
Antes de Lula se declarar Deus e ter escolhido Dilma como a ungida, ele vivia dizendo que os brasileiros eram seus filhos. “Papai” é o rei do mau exemplo. Já foi multado pelo TSE seis vezes, abusa da autoridade para fazer campanha eleitoral, passa a mão em cabeça de mensaleiro, lidera um governo que quebra ilegalmente o sigilo bancário de caseiro e o fiscal de dirigente da oposição. Irmãos! Não sigamos papai nos maus exemplos! Pois bem, como somos seus “filhos”, ele decidiu estatizar os seus netos — no caso, os nossos filhos. Agora eles todos pertencem a… Lula!
O governo enviou um projeto ao Congresso que proíbe a palmada — e os beliscões. Pai que der um tapa da bunda do moleque que se joga no chão no shopping porque cismou de comprar um escafandro pode ser denunciado. O tapa na bunda, meu amigo, passou a ser um assunto de estado. Agora, esse estado tanto pode fazer sozinho a usina de Belo Monte e arcar com o seguro da operação como pode criminalizar o tapa — chinelada, então, deve passar à condição de crime hediondo. Vale para crianças e adolescentes também.
Como sabemos, um dos problemas da educação é a passividade dos adolescentes quando recebem uma ordem dos pais. Isso acabou! Agora eles já podem ir à delegacia mais próxima e denunciar aqueles monstros por “castigo corporal”. “Doutor, ele me deu um tapa no traseiro!”
“Nossa preocupação não é com a palmada. Nossa preocupação é com as palmadas reiteradas e a tendência de que a palmada evolua para surras, queimaduras, fraturas, ameaças de morte”.
Uau! A fala é da subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira, da Secretaria de Direitos Humanos. Ah, é uma subordinada de Paulo Vannuchi. Tudo faz sentido. Em que mundo vive esta senhora? Que diabo de fantasia é essa?
Projeto de Lula, é? Fico aqui pensando: terá sido a falta de palmadas que levou Lulinha a criar a Gamecorp? Ou palmadas terão faltado antes, no pai do rapaz? Naquele filme micado, a mãe de Lula protege o filho da surra do pai alcoólatra. Agora o Brasil tem de pagar o pato porque o presidente, parece, teve um pai ausente e violento — ao menos é o que ele diz —, o que o impediu de ter superego. Essa última constatação não é parte das minhas ironias, não! Isso é uma verdade psicanalítica. Consultem um especialista.
Agora vem a segunda parte da minha tese: sabem quem Lula elegeu para pai? Sabem quem é o Laio deste Édipo de Garanhuns com registro distorcido? FHC!!! Lula só consegue se entender inteiro se matar FHC, o que ele faz todo dia, tentando eliminá-lo da história. A falta de superego explica essa vaidade desmesurada e esse complexo de Deus. Mas deixo essa mente fascinante para mais tarde.
Volto agora ao projeto. Pais que imponham hoje um castigo cruel aos filhos já são punidos. Se, a despeito das punições previstas, o espancamento ou maltrato acontecem, estamos diante da evidência de que a lei não os intimida. É uma questão de lógica: se o sujeito não teme a lei que proíbe o mais, não vai temer a lei que proíbe o menos.
Logo, a lei de Lula, que estatiza os nossos filhos, busca punir os pais do tapa eventual, às vezes necessário, para coibir um comportamento inconveniente. O Babalorixá propôs uma lei que deixa os violentos, psicopatas ou bandidos onde sempre estiveram e que passa a punir as pessoas normais. A rigor, é o mesmo mecanismo mental estúpido que resultou naquele referendo sobre o desarmamento. Queria proibir a venda de armas legais — geralmente comprada por cidadãos de bem. Ocorre que o problema do Brasil eram e são as armas ilegais, da bandidagem. Bem, nesse caso, o Estado não podia fazer nada… Quem é Lula para dizer como devemos criar os nossos filhos? As leis existentes já são suficientes para punir os violentos.
Tenho duas filhas, 13 e 15 anos, e meu blog é público. Elas podem me ler. Nunca lhes dei nem uma palmada sequer. Uma vez ou outra, raras, cheguei no “quase”. Eu apanhei dos meus pais uma vez ou outra. Tenho 48 anos já. Não sou de um tempo em que a criança era uma majestade intocável, candidata a pequeno terrorista doméstica — e, depois, do convívio social. Às vezes, eu sabia bem por que estava tomando uns petelecos; noutras, achava uma tremenda injustiça. Aprendi, também ali, a distinguir o justo do injusto? É possível.
Se me fosse dado aconselhar, diria: “Façam como faço; evitem até mesmo a palmada; tentem a conversa e outras formas de punição”. Mas isso é uma decisão que, nos limites das leis já existentes, só cabe às famílias. O estado não tem de se meter nessa relação. Daqui a pouco, uma dessas senhoras ensandecidas, metidas a dizer como devemos cuidar dos nossos lares, também vai querer se meter na alimentação das nossas crianças — idiotas que somos, precisamos de especialistas e ONGs para cuidar até disso. Alguém vai propor punir os pais porque os filhos ou são muito magros ou são obesos.
Em novembro do ano passado, estive no Programa do Jô. Muitos de vocês assistiram à entrevista ou já viram no Youtube. Costumo dizer que, em matéria de Lula e PT, eu jamais erro; só me antecipo um pouco. Se não quiserem ver tudo, recomendo, ilustrando este post e também o que está abaixo, só os 50 segundos finais, a partir dos 7min13s.
Lula ainda não diz como devemos fazer sexo, mas já andou nos aconselhando, por esses dias, sobre como devemos tratar desse assunto com nossos filhos. Considerando umas confissões que ele fez à revista Playboy em 1978, que reproduzo abaixo, acho que dispenso o professor.
“Um moleque, naquele tempo [sua infância], com 10, 12 anos, já tinha experiência sexual com animais… A gente fazia muito mais sacanagem do que a molecada faz hoje. O mundo era mais livre.”
Lula não me parece um bom professor na educação dos filhos ou na educação sexual. Que fique longe das nossas famílias. Já seria um ganho para a República se ele controlasse a dele.

PS: Nos comentários, se possível, ignorem a questão zoológica. O que está em debate é até onde o estado pode se meter nas nossas vidas.

Por Reinaldo Azevedo



terça-feira, 13 de julho de 2010

Avivamento sem Santidade

Faz alguns anos fui convidado para ser preletor de uma conferência sobre santidade promovida por uma conhecida organização carismática no Brasil. O convite bastante gentil, dizia em linhas gerais que o povo de Deus no Brasil havia experimentado nas últimas décadas ondas sobre avivamento. “O vento do Senhor tem soprado renovação sobre nós”, dizia o convite, mencionando em seguida o que considerava evidências: o movimento brasileiro de missões, crescimento na área da ação social, seminários e institutos bíblicos cheios, o surgimento de uma nova onda de louvor e Adoração, com bandas diferentes, que “conseguem aquecer os nossos ambientes de cultos”. O convite reconhecia, porém, que ainda havia muito a alcançar. Havia um assunto em especial que não tinha muito a alcançar. Havia um assunto em especial que não tinha recebido muito ênfase, a santidade. E acrescentava: “Sentimos que precisamos batalhar por santidade. Por isto, estamos marcando uma conferência sobre o tema...”
Não pude atender ao convite. Dei graças a Deus desejo daqueles irmãos em buscar santidade. Entretanto, não pude deixar de notar que por trás dessa busca havia o conceito de que se pode ter um “avivamento” espiritual sem, que haja ênfase em santidade! Parece que esses irmãos – e muitos outros no Brasil – a prática dos chamados dons sobrenaturais (visões, sonhos, revelações, milagres, curas, línguas, profecias), o “louvorzão”, o ajuntamento de massas em eventos especiais, e coisa assim, são sinais de um verdadeiro avivamento. É esse o conceito de avivamento e plenitude do Espírito que permeia o evangelicalismo brasileiro em nossos dias. Parece que a atuação do Espírito, ou um avivamento, identifica-se mais com manifestações externas e a chamada liberdade litúrgica, do que propriamente com o controle do Espírito Santo na vida de alguém, na vida da igreja, na vida de uma comunidade.
Acredito que a santidade é deixada de lado no panorama do que a esquerda teológico-mística considera despertamento espiritual. Lamentavelmente, o escândalo da participação maciça da bancada evangélica (com esmagadora maioria de igrejas pentecostais e neopentecostais) na famigerada máfia dos sanguessugas e outros escândalos vieram confirmar, a santidade de vida, a ética e a moralidade estão desconectados por completo da vida cristã, dos cultos, dos milagres, da prosperidade em geral.
Uma análise do conceito bíblico de santidade que fosse orientada para pentecostais e neopentecostais – sempre lembrando que não estou generalizando, pois há irmãos pentecostais e neopentecostais que amam a santidade – teria de destacar os seguintes aspectos:

1 . A Santidade não tem nada a ver com usos e costumes. Ser santo não é guardar uma série de regras e normas concernentes a vestuários e tamanho de cabelo. Não é ser contra o piercing, tatuagem, filmes da Disney ou a Bíblia na Linguagem de Hoje. Não é só ouvir música evangélica, nunca ir à praia ou ao campo de futebol e nunca tomar um copo de vinho e de cerveja. Não é viver jejuando e orando, isolado dos outros, andar de paletó e gravata. Para muitos pentecostais no Brasil, santidade está ligada a esses costumes. Duvido que essas coisas funcionem. Elas não mortificam a inveja, a cobiça, a ganância, os pensamentos impuros, a raiva, a incredulidade, o temor dos homens, a preguiça, a mentira. Nenhuma dessas abstinências e regras conseguem, de fato, crucificar o velho homem com seus feitos. Têm aparência de piedade, mas não tem poder algum contra a carne. Foi o que Paulo tentou explicar aos colossenses, muito tempo atrás: “Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne” (CL 2:23).

2. A santidade existe sem manifestações carismáticas e as manifestações carismáticas existem sem ela. Isso fica muito claro na primeira carta de Paulo aos corintos. Provavelmente, a igreja de Corinto foi a igreja onde os dons espirituais, especialmente línguas, profecias, curas, visões e revelações, mais se manifestam durante o período apostólico. No entanto, não existe no Novo Testamento uma igreja onde houve uma maior falta de santidade do que aquela. Ali, os seus membros estavam divididos por questões secundárias, havia a prática da imoralidade, culto à personalidade, suspeitas, heresias e a mais completa falta de amor e pureza, até mesmo na hora da celebração da Ceia do Senhor. Eles pensavam que eram espirituais, mas Paulo os chama de carnais (1CO 3: 1-3). As manifestações espirituais podem ocorrer até mesmo através de pessoas como Judas, que, juntamente com os demais apóstolos, curou enfermos e ressuscitou mortos (MT 10: 1-8). No dia do juízo, o Senhor Jesus expulsará de sua presença aqueles que praticam a iniqüidade, mesmo que tenham expelido demônios e curado enfermos (MT 7: 22-23).
Um leitor, certa feita me escreveu:

É necessário lembrar que não existe avivamento somente com santidade, mas com a manifestação da glória de Deus de várias formas. Isso é comprovado pelas Escrituras e pela história. Todos os avivamentos, tanto do VT como do NT, forma cheios de glória e manifestações poderosas. Avivamento só com santidade não existe, pois assim como Deus é santo, ele é Espírito e todo-poderoso também.
Eu entendi o que ele quis dizer, mas é evidente que sua tese não se sustenta. O conceito de reavivamento ou avivamento espiritual, como os próprios termos indicam, implicam trazer à vida àquilo que estava em estado de morte. O melhor exemplo é o vale de ossos secos de Ezequiel. Avivamento é quando Deus visita o seu povo trazendo-lhe vida espiritual. Esse é o conceito bíblico. Manifestações poderosas, sinais e prodígios podem existir sem que haja real avivamento. E vice-versa. O âmago do avivamento é o despertamento espiritual interior da alma da pessoa, quando suas faculdades são aguçadas e o discernimento espiritual retorna - e com ele o ódio ao pecado, o amor à pureza, o desejo de íntima comunhão com Deus, desejo de ler e ouvir a palavra de Deus e ter comunhão com os irmãos. Todas essas características são encontradas nos avivamentos espirituais narrados na bíblia, como as reformas feitas pelos reis Asa, Josafá, Ezequias, entre outros, e o grande avivamento entre os judeus que retornaram do cativeiro sob Esdras. Contudo, não houve em nenhum deles sinais e prodígios.

3. A santidade implica principalmente a mortificação do pecado que habita em nós. Apesar de sermos regenerados e de possuirmos uma nova natureza, o velho homem permanece em nós e precisa ser mortificado diariamente, pelo poder do Espírito Santo. È necessário mais poder espiritual para dominar as paixões carnais do que para expelir demônios. E, a julgar pelo que testemunhamos, estamos muito longe de uma grande efusão do Espírito. Onde as paixões carnais se manifestam, não há santidade, mesmo que doentes sejam curados, línguas “estranhas” sejam faladas e demônios sejam expulsos. Não há nenhuma passagem em toda a Bíblia que faça a conexão direta entre santidade e manifestações carismáticas. Ao contrário, a Bíblia nos adverte constantemente contra falsos profetas, Satanás e seus emissários, cujo sinal característico é a operação de sinais e prodígios. Os textos de Mateus 24: 24, Marcos 13: 22, 2Tessalinicenses 2:9 e Apocalipse 13: 13; 16: 14, por exemplo tratam disso.

4. O poder da santidade provém da união com Cristo. Ninguém é santo pela força de vontade, por mais que deseje. Não há poder em nós mesmo para mortificarmos as paixões carnais. Somente mediante a união com o Cristo crucificado e ressurreto é que teremos o poder necessário para subjugar a velha natureza e nos revestimos da nova natureza, do novo homem, que é Cristo. O legalismo não consegue obter o poder espiritual necessário para vencer Adão. Somente Cristo pode vencer Adão. È somente mediante nossa união mística com o Cristo vivo que recebemos poder espiritual para vivermos uma vida santa, pura e limpa aqui nesse mundo. È mais difícil vencer o domínio de hábitos pecaminosos do que quebrar maldições, libertar enfermos e receber prosperidade. O poder da ressurreição, contudo, triunfa sobre o pecado e sobre a morte. Quando “sabemos” que fomos crucificados com Cristo (Rm 6:6), nós nos “consideramos” mortos para o pecado e vivos para Deus (Rm 6:11), não permitindo que o pecado “reine” sobre nós (Rm 6: 12) e nem nos “oferecemos” a ele como escravos (Rm 6: 13), experimentamos a vitória sobre o pecado (Rm 6: 14). Aleluia!

5. A santidade é progressiva. Ela não é obtida instantaneamente por meio de alguma intervenção sobrenatural. Deus nunca prometeu que nos santificaria por inteiro, de uma vez só. Na verdade, os apóstolos escreveram as cartas do Novo Testamento para instruir os crentes no processo de santificação. Infelizmente, influenciados pelo pensamento de João Wesley – que noutros pontos tem sido inspiração para minha vida e de muitos -, pentecostais e neopentecostais buscam a santificação instantânea, ou a experiência do amor perfeito, esquecidos que a pureza da vida e a santidade de coração são advindas de um processo diário e incompleto aqui neste mundo.

6. A santificação é um processo irresistível na vida do verdadeiro salvo. Deus escolheu um povo para que fosse santo. O alvo da escolha de Deus é que sejamos santos e irrepreensíveis diante dele (Ef 1:4). Deus nos escolheu para a salvação mediante a santificação do Espírito (2Ts 2:13). Fomos predestinados para sermos conforme à imagem de Jesus Cristo (Rm 8:29). Muito embora o verdadeiro crente tropece, caia, falhe miseravelmente, ele não permanecerá caído. Será levantado por força do propósito de Deus, mediante o Espírito. Sua consciência não vai deixá-lo em paz. Ele não conseguirá amar o pecado, viver na prática do pecado. Ele vai fazer como o filho pródigo: “Levantar-me-ei e irei ter com o meu Pai, e lhe direi: Pai. Pequei contra o céu e diante de ti” (Lc 15:18). Ninguém que vive na prática do pecado, da corrupção, da imoralidade, da impiedade – e gosta disso – pode dizer que é salvo, filho de Deus, por mais próspero que seja financeiramente, por mais milagres que tenha realizado e por mais experiências sobrenaturais que tenha tido.
Estava certo o convite que recebi naquele dia: precisamos de santidade! E como! E a começar em mim. Tem misericórdia, ó Deus!

*Artigo publicado no livro: “Ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro - O QUE ESTÃO FAZENDO COM A IGREJA”, do pastor Augustus Nicodemus. Pags.: 151 – 156. Ed. Mundo Cristão – São Paulo / 2008.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Os Miseráveis

Em uma reportagem do Fantástico de ontem, o médico Drauzio Varella visita duas cidades de Alagoas - Santana do Mandaú e Murici (condado de Renan Calheiros) - para ver como estão sendo tratados os desabrigados das enchentes.

Vocês sabem que já condenei aqui a exploração política de tragédias naturais — o que não quer dizer que a natureza não costume ser especialmente perversa com os miseráveis, já que eles costumam estar onde ela é mais inóspita ou menos domada. Mas se deve considerar que há ocorrências que estão fora da seqüência conhecida ou esperada de eventos. Nenhum país está livre delas. O aparelho de Estado e os governos testam a sua competência no trabalho de resgate e de auxílio às vítimas. E, obviamente, espera-se deles um trabalho de planejamento para retirar as pessoas de áreas de risco e impedir que outras as ocupem.
Há mais de 100 mil desabrigados em Alagoas e Pernambuco. Drauzio visitou duas pequenas localidades que são apenas exemplares da dimensão da tragédia. O que aconteceu nos dois estados demanda uma mobilização comparável, rigorosamente, a um esforço de guerra. Não farei como a esquerda (quando estava fora do poder ), que usava as mazelas do Brasil para declarar: “Este é o país real; tudo o que dizem existir de bom é mentira!” Não!!!
Há muitas coisas boas no país, e parte delas decorreu da organização da economia nos últimos 16 anos — coisas que os esquerdistas não conseguiram impedir, mesmo no poder. Mas também há muita coisa ruim. A pobreza no Nordeste é ainda gigantesca. E, se seus extremos podem ser amenizados por programas ditos de transferência de renda, é certo que eles não são “a” resposta de longo prazo. E há, como o vídeo deixa claro, uma incompetência alarmante.
Os cidadãos, os indivíduos, se mobilizaram. A esta altura, deve faltar lugar para estocar alimentos, roupas e utensílios doados. O que o estado brasileiro não está conseguindo é organizar essa distribuição e dar uma resposta à altura da tragédia. Essas pessoas amontoadas como animais em galpões são o retrato do escândalo. Lavam roupa nas águas em que chafurdam os porcos; metem utensílios contaminados naquela que deveria ser a água potável. O ambiente, sem banheiros em número suficiente, é fétido, relata o médico.
Há cidades em Pernambuco que passam pelas mesmas dificuldades. A tragédia tem uma face suprapartidária. Alagoas é governada pelo PSDB; Pernambuco, por um condomínio liderado pelo PSB e pelo PT. Não seria difícil apontar a desídia desses governos. Mas é evidente que uma tragédia dessas dimensões é um assunto que exige a presença mais ativa do governo federal. Está mandando remédios, ajuda etc. É muito pouco. Lula e Dilma já prometeram que o PAC 2 (!?) dará a resposta adequada ao problema. É indecoroso! A tragédia vira motivo para caçar votos.
Não é aceitável que uma economia do tamanho da nossa seja incapaz de intervir para, ao menos, impedir que as pessoas que não foram arrastadas pelas águas sejam agora arrastadas por doenças contagiosas, típicas do convívio social insalubre. Esses desgraçados, ademais, não deram sorte. Por uns bons dias, ninguém quis saber de sua desgraça. O primeiro escalão estava ocupado em saber quem ficaria com a garrafa de pinga, galardão para quem acertasse o bolão da Copa…

Por Reinaldo Azevedo

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Divórcio Mais Fácil Ainda

Acabei de ler a seguinte notícia:
“Em último turno, o plenário do Senado aprovou o projeto do divórcio direto. Essa alteração no texto constitucional acaba com os prazos atualmente necessários entre o fim da convivência do casal e o divórcio, além de tirar da Constituição a figura da separação formal. A lei já passou pela Câmara e não precisa passar pelo crivo do presidente da República. Começa a valer assim que publicada no Diário Oficial.”
Os prazos atuais são estes: o divórcio pode ser pedido após um ano da separação formal (judicial ou no cartório), ou após dois anos da separação de fato (quando o casal deixa de viver junto). Com a nova medida, o pedido de divórcio poderá ser imediato, feito assim que o casal decidir pelo término do casamento. A existência destes prazos se justificava, entre outros motivos, por uma visão elevada do casamento e de sua seriedade. Dava tempo para que as pessoas realmente refletissem se era isto mesmo que queriam. Não poucos voltaram atrás e continuaram casados. Mas agora a coisa banalizou. Descasar e casar de novo se tornaram tão fáceis quanto alugar um apartamento e rescindir o contrato. Aliás, até mais fácil, pois neste último caso, tem multas para serem pagas.
O assunto provoca a reflexão da relação entre o cristão que toma a Bíblia como única regra de fé e prática e a submissão às autoridades civis. Sobre isto, vou expressar minha opinião. Eu sei que o Senado não está tratando das causas do divórcio e sim da rapidez com que ele pode ser obtido. Mas ao torná-lo tão fácil e rápido, com certeza vai estimular ainda mais as separações por quaisquer motivos.
1 – O ensino do Novo Testamento é que todos devem estar sujeitos às autoridades superiores pois as mesmas foram constituídas por Deus. É isto que Paulo diz em Romanos 13.1 e Tito 3.1, ecoado por Pedro em 1Pedro 2.13. A referência em todas estas citações é aos governantes. Diga-se, de passagem, que na época em que Paulo e Pedro escreveram, Roma governava absoluta e o Imperador era a autoridade máxima.
2 – Não é preciso dizer que estas diretivas de submissão aos governos são excetuadas no Novo Testamento quando as autoridades, disvirtuando sua função, promulgam leis ou tomam decisões que colocam os cristãos em conflito com sua consciência, a qual está cativa a Cristo, pelas Escrituras. Um bom exemplo disto foi a desobediência dos apóstolos à determinação do Sinédrio de que eles parassem de falar de Cristo em Jerusalém. A resposta deles foi: “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos (At 4.19-20).

3 – No caso do divórcio, é preciso reconhecer que em nosso país é o Estado quem oficializa o casamento e que é o Estado que o termina oficialmente. As igrejas e os pastores tão somente invocam a bênção de Deus sobre o matrimônio. Igualmente, não são as igrejas que realizam o divórcio. Todavia, se o Estado vier a legalizar o casamento entre homossexuais e lésbicas, as igrejas cristãs – pelo menos uma parte delas – se recusará a pedir a benção de Deus sobre este “casamento.” Da mesma forma, estas mesmas igrejas – e mais uma vez, pelo menos uma parte delas - se recusará a aceitar a validade espiritual e religiosa de divórcios obtidos de maneira contrária à Escritura.

4 – Como me incluo entre aqueles pastores que não aceitarão a validade religiosa e espiritual de divórcios obtidos de qualquer forma, vou dar minhas razões. Na verdade, estas razões não são minhas, mas são aquelas apresentadas na Confissão de Fé de Westminster, que é a declaração oficial da maioria das igrejas presbiterianas conservadoras no mundo todo. De acordo com ela, o divórcio só deverá ser procurado em caso de adultério e em caso de abandono pela parte descrente.

5 – No caso de adultério, a base bíblica invocada são as palavras de Jesus em Mateus 5.32, “Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério”. Ele repetiu estas palavras em Mt 19.3. E no caso do abandono, a referência é às palavras de Paulo em 1Coríntios 7.15, “Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz.” Os autores da Confissão de Fé entenderam que estas passagens abriam a possibilidade de se buscar o divórcio e depois um novo casamento em caso de traição e abandono.

6 – Novos casamentos que se originaram em divórcios que não foram obtidos pelas razões acima, nas palavras de Jesus se constituem em adultério, conforme o ponto anterior citando Mt 5.32; 19.3. É claro que isto cria uma enorme quantidade de casos problemáticos nas igrejas, que cada vez mais estão cheias de membros, presbíteros e pastores divorciados e casados pela segunda e terceira vez, e cujas separações se deram por motivos como incompatibilidade de gênios, falta de amor, etc.
7 – Esta área é tão complexa que não existe solução fácil nem ideal após ter havido o divórcio pelos motivos errados e, ainda por cima, um novo casamento. Não se trata do pecado sem perdão, mas certamente traz conseqüências danosas para todos. Uma igreja que recebe e aceita como membros quaisquer divorciados e recasados está passando uma mensagem muito clara aos seus membros: o casamento não é uma coisa tão séria assim, e que se der errado sempre tem a porta do divórcio por onde se pode sair e encontrar outra pessoa em nome da “felicidade”.

8 – Deus já nos disse o que ele pensa sobre o divórcio. “O SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio” (Ml 2.16). “Tornaram eles: Moisés permitiu lavrar carta de divórcio e repudiar. Mas Jesus lhes disse: Por causa da dureza do vosso coração, ele vos deixou escrito esse mandamento; porém, desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, deixará o homem a seu pai e mãe e unir-se-á a sua mulher, e, com sua mulher, serão os dois uma só carne. De modo que já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem” (Marcos 10.4-9).

O resumo da ópera, para mim, é este. Mesmo que o Estado sancione leis que tornem o divórcio fácil de obter por qualquer motivo, ainda assim os cristãos têm sua consciência presa à Palavra de Deus. Eles poderão legitimamente procurar e obter o divórcio se traídos ou abandonados (aqui, para mim, está incluída a agressão física). Nos demais casos, com a graça de Deus e ajuda pastoral e profissional, poderá superar as dificuldades e manter o casamento.

O Tempora O Mores

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sábado, 10 de julho de 2010

Os meandros do Estatuto do Nascituro - (os caminhos tortuosos que vem percorrendo essa proposta legislativa)

A proposta

Em junho de 2004, o Pró-Vida de Anápolis enviou ao deputado Elimar Máximo Damasceno (PRONA/SP) uma sugestão de projeto de lei que dispusesse sobre a proteção integral à criança por nascer: o Estatuto do Nascituro[1].
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A deformação da proposta

O deputado submeteu a proposta à Consultoria Legislativa da Câmara. Em setembro de 2004, a Consultoria emitiu um parecer no qual destruía o núcleo da proposta original. O nascituro – segundo a Consultoria – não deveria ser considerado pessoa, mas expectativa de pessoa. Além disso, ele não deveria ter direitos, mas “expectativa de direitos”. E quanto ao artigo 128 do Código Penal, que isenta de pena o aborto em duas hipóteses, ele deveria ser preservado por oferecer “maior proteção ao nascituro” (sic!).
Tendo sido informado do desastroso parecer da Consultoria, o Pró-Vida de Anápolis comunicou ao deputado Elimar que seria melhor manter a versão original.
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A tragédia

No dia 01/11/2005 o deputado Osmânio Pereira (PTB/MG) apresentou o projeto, porém, não na versão original, mas naquela deformada pela Consultoria. O projeto, que recebeu o número PL 6150/2005, trazia o nome de “Estatuto do Nascituro”, mas na verdade o que fazia era negar ao nascituro seus direitos e sua personalidade, em oposição frontal ao Pacto de São José da Costa Rica.
Para alegria das crianças, o PL 6150/2050 foi arquivado em 31/01/2007 (fim da legislatura), sem que chegasse a ser apreciado.
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Renovação da tragédia

Em 19/03/2007, os deputados Luiz Bassuma (PT/BA) e Miguel Martini (PHS/MG) reapresentaram a mesma proposta deformada, desta vez com o número PL 478/2007. Em 30/3/2007 o projeto foi recebido pela Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF). Em 4/6/2007 foi designada como relatora a deputada Solange Almeida (PMDB-RJ).
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Uma tentativa de conserto

Em 26/11/2009, a relatora emitiu um parecer favorável ao projeto, mas na forma de um substitutivo. Segundo palavra da própria deputada, o texto foi de tal modo reduzido que perdeu sua “característica de Estatuto”. Os erros mais grosseiros foram corrigidos. Desta vez, afirmava-se que o nascituro tem direitos e não meras “expectativas de direito”. Não se negava mais que o nascituro fosse pessoa, mas tampouco se ousava afirmá-lo. O substitutivo quis deixar de lado a “discussão acerca do momento do início da personalidade jurídica” (sic), o que foi um grande empobrecimento.

Qualquer atentado aos direitos do nascituro seria “punido na forma da lei” (art. 5º). No entanto, a relatora excluiu toda a parte penal do projeto. Desapareceram então os crimes contra o nascituro, assim como o enquadramento do aborto entre os crimes hediondos.
Foram mantidos os direitos do nascituro concebido em decorrência de um estupro (art. 13): assistência pré-natal, acompanhamento psicológico da mãe, encaminhamento para a adoção (caso a mãe o deseje) e pensão alimentícia. Este último direito, porém, foi enfraquecido. Não se diz mais que a pensão será de 1 (um) salário mínimo, nem que ela será oferecida até que a criança complete 18 anos. Além disso, tal benefício só será dado à gestante se ela não dispuser de meios para cuidar da criança. Com todas essas restrições, a ajuda do Estado deixou de ser algo líquido e certo, como estava previsto na versão original.

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O substitutivo é posto em pauta

Apesar de tão esvaziado e enfraquecido, o que restou do “Estatuto do Nascituro” foi alvo de veementes ataques dos abortistas. Na acalorada sessão de 19/05/2010 na CSSF, que durou mais de quatro horas, houve tentativa de derrubar a sessão e de adiar (ainda mais) a votação do projeto.

Surpreendente foi a atuação da deputada Fátima Pelaes (PMDB/AP), que declarou publicamente ter sido concebida em decorrência de um abuso sexual sofrido por sua mãe, que cumpria pena em um presídio e já tinha cinco filhas. A deputada, que nunca conheceu seu pai, confessou que outras vezes já defendera o direito ao aborto. “Mas eu precisava ser curada, ser trabalhada, porque eu estava com um trauma”, acrescentou. Naquela sessão, porém, ela estava decidida em votar em favor da vida: “Se nós lutamos pelo direito à vida, temos que lutar desde o nascituro”.
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Uma nova deformação

À última hora, no dia 19/5/2010, a deputada fez uma “complementação de voto” a pedido do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB/SP). No artigo 13, o nascituro concebido em decorrência de estupro teria os direitos acima, porém, “ressalvados o disposto no Art. 128 do Código Penal Brasileiro” (sic). Com esse triste enxerto, o artigo 13 passou a dizer que, apesar de o nascituro ter todos esses direitos, o médico que matá-lo será isento de pena.
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A votação do substitutivo

“Aqueles que forem favoráveis ao projeto 478, permaneçam como se acham”, disse o presidente da Mesa deputado Manato (PDT/ES). Sete deputados levantaram-se contra o projeto:

ARLINDO CHINAGLIA (PT/SP)
DARCÍSIO PERONDI (PMDB/RS)
DR. ROSINHA (PT/PR)
HENRIQUE FONTANA (PT/RS)
JÔ MORAES (PCdoB/MG)
PEPE VARGAS (PT/RS)
RITA CAMATA (PSDB/ES)

“Aprovado!”, concluiu o presidente.

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As reformas necessárias
A vitória do PL 478/2007 na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) foi apenas um primeiro passo de um longo trajeto que precisa de sérias correções. Eis as reformas mais importantes:


1º) O Estatuto do Nascituro deve explicitamente declarar que o nascituro é pessoa desde a concepção, em conformidade com o que diz o Pacto de São José da Costa Rica (art. 1º, n. 2 e art. 3º). Convém lembrar que o Supremo Tribunal Federal considerou, por maioria, que essa Convenção tem status supralegal, “estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna” (RE 349703/RS). Assim, já não tem aplicação a primeira parte do artigo 2º do Código Civil, que diz: “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida”. O Estatuto do Nascituro precisa corrigir esse erro, dizendo: “a personalidade civil do ser humano começa com a sua concepção”.

Não basta dizer que o nascituro tem direitos. Isso já diz o atual Código Civil em vários lugares (art. 2º parte final, art. 542, art. 1692, art. 1621, art. 1798 e art. 1799, I). Enquanto não for afirmado que o nascituro é pessoa, tais direitos serão interpretados como meras expectativas de direitos, como têm feito até agora tantos doutrinadores.
Note-se que a negação da personalidade do nascituro (art. 2º, CC, parte inicial) foi o argumento chave usado pelo ministro Carlos Ayres Britto, relator da ADI 3510 para defender a destruição de embriões humanos. Ele admitiu expressamente que, se o nascituro fosse pessoa, qualquer permissão para o aborto seria inconstitucional[2].

2º) O Estatuto do Nascituro deve alterar a redação do artigo 128 do Código Penal, que não pune o aborto em duas hipóteses. O aborto diretamente provocado deve ser sempre punido. A morte do nascituro só pode ser tolerada como efeito secundário de uma ação em si boa. Convinha usar a redação proposta pelos bispos do Brasil em agosto de 1998 à Comissão Revisora do Anteprojeto do Código Penal do Ministério da Justiça:

Art. 128 - Não constitui crime um procedimento médico, não diretamente abortivo, tendente a salvar a vida da gestante, que tenha como efeito secundário e indesejado, embora previsível, a morte do nascituro.
Parágrafo único: A exclusão de ilicitude referida neste artigo não se aplica:

I - se a morte do nascituro foi diretamente provocada, ainda que tenham sido alegadas razões terapêuticas

II - se era possível salvar a vida da gestante por outros procedimentos que não tivessem como efeito secundário a morte do nascituro.

Note-se que, na proposta dos bispos, desaparecia o aborto como meio, admitindo-se a morte do nascituro apenas como efeito, desde que observadas diversas condições do princípio da ação com duplo efeito. Essa sugestão, que naquela época não foi acolhida pelo governo brasileiro, poderia agora ser inserida no Estatuto do Nascituro, como, aliás, previa a versão original do projeto.

3º) O Estatuto do Nascituro deve incluir o aborto entre os crimes hediondos. De fato, o homicídio qualificado já é crime hediondo (art. 1º, I, Lei 8072/1990). Ora, um dos elementos que torna o homicídio qualificado é o uso de “recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido” (art. 121, §2º, IV, CP). Ora, essa circunstância está sempre presente no aborto, uma vez que a criança é absolutamente indefesa. Não faz sentido discriminá-la simplesmente por ela estar situada dentro do organismo materno.

Outras reformas ainda podem ser feitas. Mas a primeiríssima delas, sem a qual as demais perdem a consistência, é reconhecer sem meias palavras que o nascituro é pessoa. A negação da personalidade do nascituro vem servindo nos EUA para sustentar a terrível sentença Roe versus Wade, com a qual a Suprema Corte em 1973 impôs a legalidade do aborto a todo o território estadunidense.

Anápolis, 17 de junho de 2010.
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
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[1]A proposta foi publicada na edição n.º 60, de 1º de junho de 2004 do boletim “Aborto. Faça alguma coisa!”.

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