Em uma reportagem do Fantástico de ontem, o médico Drauzio Varella visita duas cidades de Alagoas - Santana do Mandaú e Murici (condado de Renan Calheiros) - para ver como estão sendo tratados os desabrigados das enchentes.
Vocês sabem que já condenei aqui a exploração política de tragédias naturais — o que não quer dizer que a natureza não costume ser especialmente perversa com os miseráveis, já que eles costumam estar onde ela é mais inóspita ou menos domada. Mas se deve considerar que há ocorrências que estão fora da seqüência conhecida ou esperada de eventos. Nenhum país está livre delas. O aparelho de Estado e os governos testam a sua competência no trabalho de resgate e de auxílio às vítimas. E, obviamente, espera-se deles um trabalho de planejamento para retirar as pessoas de áreas de risco e impedir que outras as ocupem.
Há mais de 100 mil desabrigados em Alagoas e Pernambuco. Drauzio visitou duas pequenas localidades que são apenas exemplares da dimensão da tragédia. O que aconteceu nos dois estados demanda uma mobilização comparável, rigorosamente, a um esforço de guerra. Não farei como a esquerda (quando estava fora do poder ), que usava as mazelas do Brasil para declarar: “Este é o país real; tudo o que dizem existir de bom é mentira!” Não!!!
Há muitas coisas boas no país, e parte delas decorreu da organização da economia nos últimos 16 anos — coisas que os esquerdistas não conseguiram impedir, mesmo no poder. Mas também há muita coisa ruim. A pobreza no Nordeste é ainda gigantesca. E, se seus extremos podem ser amenizados por programas ditos de transferência de renda, é certo que eles não são “a” resposta de longo prazo. E há, como o vídeo deixa claro, uma incompetência alarmante.
Os cidadãos, os indivíduos, se mobilizaram. A esta altura, deve faltar lugar para estocar alimentos, roupas e utensílios doados. O que o estado brasileiro não está conseguindo é organizar essa distribuição e dar uma resposta à altura da tragédia. Essas pessoas amontoadas como animais em galpões são o retrato do escândalo. Lavam roupa nas águas em que chafurdam os porcos; metem utensílios contaminados naquela que deveria ser a água potável. O ambiente, sem banheiros em número suficiente, é fétido, relata o médico.
Há cidades em Pernambuco que passam pelas mesmas dificuldades. A tragédia tem uma face suprapartidária. Alagoas é governada pelo PSDB; Pernambuco, por um condomínio liderado pelo PSB e pelo PT. Não seria difícil apontar a desídia desses governos. Mas é evidente que uma tragédia dessas dimensões é um assunto que exige a presença mais ativa do governo federal. Está mandando remédios, ajuda etc. É muito pouco. Lula e Dilma já prometeram que o PAC 2 (!?) dará a resposta adequada ao problema. É indecoroso! A tragédia vira motivo para caçar votos.
Não é aceitável que uma economia do tamanho da nossa seja incapaz de intervir para, ao menos, impedir que as pessoas que não foram arrastadas pelas águas sejam agora arrastadas por doenças contagiosas, típicas do convívio social insalubre. Esses desgraçados, ademais, não deram sorte. Por uns bons dias, ninguém quis saber de sua desgraça. O primeiro escalão estava ocupado em saber quem ficaria com a garrafa de pinga, galardão para quem acertasse o bolão da Copa…
Por Reinaldo Azevedo
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