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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Pastor Estevam Oliveira fala sobre Cristianismo

Embora tenham surgido vários movimentos que se declaram religiosos, o Cristianismo ainda é uma religião predominante em praticamente todo o mundo, e em especial no Brasil.
Porém, dentro dessa corrente nascem diferentes comportamentos ditos como cristãos, os quais são vistos em determinadas igrejas.
O pastor Estevam Oliveira, da Primeira Igreja Batista de João Pessoa, na Paraíba, nos concedeu uma entrevista abordando esse assunto a partir de uma perspectiva panorâmica.

VINACC - É sabido que no dito mundo pós-moderno as pessoas costumam buscar nas suas próprias convicções, meios para suprir a sua carência espiritual. Contudo o Cristianismo hoje, segundo pesquisas tem cerca de 2,1 bilhões de adeptos no mundo. O que o senhor pensa a esse respeito?


Pr. Estevam - No mundo contemporâneo assistimos a uma nova efervescência religiosa e a construção de novas espiritualidades, mesmo dentro das chamadas religiões tradicionais. Se por um lado, é verdade que as pessoas não mais ficam nos limites das “verdades religiosas”, buscando, então, suas próprias verdades e caminhos, ainda assim as grandes religiões, como cristianismo e islamismo, experimentam crescimento e expansão.



VINACC - O Cristianismo se iniciou através dos ensinamentos de Jesus de Nazaré, cidade situada no Oriente Médio. Porém, essa religião é massificamente seguida por outras partes do mundo como Europa, o continente Americano e Oceania. Por isso aconteceu?




Pr. Estevam - Pelo forte espírito missionário que acompanhou a igreja nos seus primórdios, por questões políticas como a perseguição promovida pelo Império Romano, pela figura do apostolo Paulo, que encarnou o cristianismo entre os gentios e depois, pela expansão dos impérios colonizadores católicos, como Portugal e Espanha; e mais recentemente, a Inglaterra e a América do Norte.


VINACC - O Cristianismo, o judaísmo e o Islamismo são religiões denominadas abraâmica. Por que essas religiões, apesar de terem surgido do mesmo berço, digamos assim, se contradizem em larga escala, sendo forte motivador até de guerras?



Pr. Estevam - Porque elas têm na sua essência diferenças radicais. O judaísmo fechou-se no seu sistema legal, sacrifical, sacerdotal e político. Tornou-se a religião de um povo, portanto, de forte teor étnico. O islamismo, mais agressivo no seu inicio, decidiu conquistar todos os povos de identidade árabe, tornando-se uma religião de muitas nações, muito embora de identidade cultural árabe; O cristianismo já nasceu missionário. O Ide de Jesus orientou uma religião de alcance mundial, portanto, transcultural. Ademais, existem poucas semelhanças nas figuras proféticas e no perfil humano dos seus principais lideres: Moises, Maomé e Jesus Cristo. Do legalismo, do espírito guerreiro à mensagem de amor, eles são bem diferentes.



VINACC - Hoje ser ‘Cristão’ se tornou uma expressão popular. Para o senhor, enquanto um líder eclesial qual o sentido real e correto para aludir ao tal termo?


Pr. Estevam - Seria na essência o discípulo espiritual de Jesus Cristo. Aquela pessoa disposta a viver segundo o seu Mestre, com consciência cidadã, religiosa, ética e política, do preço a pagar por tal decisão.


VINACC - O Cristianismo deu origem a três ramos religiosos: Protestantismo, Catolicismo e Igreja Ortodoxa. Por que se deu essa divisão? É possível elencar a original?


Pr. Estevam - O cristianismo no seu berço nasceu para ser uno, todavia, pelo seu confronto com legalismo judaico e sua inserção no mundo greco-romano, ele precisou adquirir várias faces, conviver com a diversidade hermenêutica e cultural, sendo impossível manter-se unificado. Ainda mais, existe a questão do poder, tanto em torno das pessoas como em relação a mensagem bíblica, que contribuiu (e ainda contribui) para uma variedade de “cristianismo” ao longo da história e ainda em nossos dias.


VINACC - Apesar de suas ramificações religiosas, o Cristianismo no geral tem um preceito universal, que é crer na existência de um Deus, criador do universo; de Jesus Cristo, seu filho. Por que mesmo defendendo esses preceitos tais hibridações religiosas, originais do Cristianismo se chocam nas suas ideologias?


Pr. Estevam - Na verdade, as várias ramificações do Cristianismo, mesmo mantendo diferentes aspectos de práticas, cultos, e também doutrinárias, mantêm a mesma essência, que é a crença no Deus único e na figura redentora de Jesus Cristo, seu filho. Logo, de certa forma, o cristianismo constitui certa unidade.



VINACC - Nos países anglo-saxões, onde a Reforma Protestante eclodiu no século XVI, o termo "evangélico" é usado para definir quase todas as doutrinas cristãs protestantes. Já no Brasil, quando se fala de evangélicos, trata-se de uma forma genérica de se referir às correntes protestantes pentecostais e neopentecostais. Como o senhor avalia essa nova expressão para definir uma ramificação Cristã?

 

Pr. Estevam - A expressão “evangélicos” para identificar os novos protestantes no Brasil de hoje, surgiu não como uma correlata da mesma expressão européia, mas para substituir o termo “crente”, visto que estava impreguinado de caráter pejorativo, preconceituoso. Para tal contribuiu muito o crescimento assustador dos novos crentes a partir do movimento neopentecostal; era preciso encontrar uma palavra que identificasse todos os protestantes de maneira proposital, daí a expressão evangélicos.


VINACC - Como o senhor explica a seguinte expressão: ‘Todo evangélico é protestante, mas nem todo protestante se considera evangélico’?

Pr. Estevam - Muitos grupos protestantes históricos, tais como: Luteranos, Presbiterianos, Metodistas, Anglicanos, etc, não se sentem identificados com a miscelânea em que se tornou o povo evangélico brasileiro; provavelmente, tem dificuldade de serem identificados como “evangélicos”.



VINACC - O Protestantismo foi um movimento iniciado na Europa no século XVI, a partir das 95 teses, do teólogo cristão e até então monge católico Martinho Lutero. Nesse contexto pode-se dizer que o movimento Protestante se originou do Catolicismo. Isso de alguma forma interfere na sua identidade?



Pr. Estevam - De forma nenhuma. Quem nasce de uma ruptura, de uma rejeição a uma realidade corrompida, cresce e se firma com uma identidade própria, ainda que mantenha raízes históricas com o grupo de onde saiu.



VINACC - Além dos próprios movimentos religiosos ditos Cristãos se dividirem, em seus próprios nichos também ocorre uma separação, a exemplo das igrejas Pentecostais e Neopentecostais. Por que acontece essa divisão e em que essas igrejas se assemelham e se diferenciam?



Pr. Estevam - As igrejas pentecostais e neopentecostais se diferenciam por características bem definidas, por exemplo: A ênfase na experiência carismática, a forma de governo, ênfase em usos e costumes, a teologia da prosperidade, dentre outras. Para os neopentecostais, a centralidade está focada na questão da cura física, libertação espiritual, prosperidade material, uma ética hedonista e pragmática, e ainda, com uma pregação que da muita ênfase à pessoa do diabo e a ação dos demônios, e também no dinheiro. Alem do que essas igrejas são autônomas, fundadas no carisma do líder, com fortes características sincréticas, isto é, fazem um sincretismo simbólico com elementos do catolicismo popular, espiritismo de terreiro e judaísmo evangélico. Não dar para comparar, por exemplo, a Igreja Assembléia de Deus com a Igreja Universal do Reino de Deus. De matizes pentecostais, são totalmente diferentes na forma de ser Igreja.



VINACC - O Protestantismo Pentecostal é uma ideologia que surgiu nos Estados Unidos no início do século XX, quando fiéis metodistas estavam insatisfeitos com a falta de fervor em suas igrejas. Qual foi a influência disso para as igrejas que surgiram posteriormente?



Pr. Estevam - A grande influencia foi a redescoberta da importância dos dons carismáticos, o apelo à santidade, fervor evangelístico e louvor de natureza mais popular, e tudo isso estava engessado nas igrejas tradicionais, sobretudo no metodismo da época.



VINACC - Grande parte das chamadas igrejas Neopentecostais mantém domínio sobre redes de comunicação, principalmente canais de Televisão. O senhor acha que isso é uma estratégia de ‘agarinhar fies’ para os templos, ou existem de fato uma preocupação de tais líderes e ajudar essas pessoas?



Pr. Estevam - É difícil de responder com segurança. De fato, sem o recurso da mídia, sobretudo da televisão, dificilmente elas teriam experimentado tanto crescimento numérico e material. Como estratégia tem dado certo, vem influenciando outros grupos evangélicos, pois vivemos numa sociedade midiatica e na cultura do espetáculo. Hoje, quem não está na mídia não existe. A mídia tornou-se onipotente e as igrejas estão sendo tragadas pela sociedade de imagens e do espetáculo. Até onde isso é positivo e quais as verdadeiras intenções dos lideres ainda está sendo objeto de estudos e pesquisas.

Izabel Silva – assessora/ VINACC.




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