Eterno Deus, teu povo congregado,
Humilde entoa teu louvor aqui!
No dia para o culto reservado,
Com esperança olhamos para ti.
Teu santo livro, ó grande Deus, tomamos
Com fé singela e reverente amor;
E, como atentos filhos, procurarmos
Ciência na Palavra do Senhor.
Jesus! Aos teus benditos pés sentados
Queremos teu conselho receber,
E sendo por ti mesmo doutrinados,
De mais em mais na santa fé crescer.
Do mundo descansar em ti, Senhor,
Mirando os ricos bens entesourados
Na plenitude do teu vasto amor.
Ensina aos teus, Espírito divino,
Dissipa as trevas destes corações;
E com a luz do teu celeste ensino
Vem aclarar as santas instruções.
Aviva em nós as forças da memória,
Pois sempre mais queremos conhecer
O Rei dos céus, o Cristo cuja glória
Enleva os santos anjos do prazer. Amém.
(S. P. Kalley)
JOSÉ MÁRIO DA SILVAPrebítero da Igreja Presbiteriana de Campina Grande
Docente da UFCG
Humilde entoa teu louvor aqui!
No dia para o culto reservado,
Com esperança olhamos para ti.
Teu santo livro, ó grande Deus, tomamos
Com fé singela e reverente amor;
E, como atentos filhos, procurarmos
Ciência na Palavra do Senhor.
Jesus! Aos teus benditos pés sentados
Queremos teu conselho receber,
E sendo por ti mesmo doutrinados,
De mais em mais na santa fé crescer.
Do mundo descansar em ti, Senhor,
Mirando os ricos bens entesourados
Na plenitude do teu vasto amor.
Ensina aos teus, Espírito divino,
Dissipa as trevas destes corações;
E com a luz do teu celeste ensino
Vem aclarar as santas instruções.
Aviva em nós as forças da memória,
Pois sempre mais queremos conhecer
O Rei dos céus, o Cristo cuja glória
Enleva os santos anjos do prazer. Amém.
(S. P. Kalley)
Temos insistentemente pontuado em nossas dominicais meditações que, por ser parte constitutiva do culto público prescrito por Deus nas Escrituras Sagradas, o louvor, comunitariamente entoado pelos crentes, deve buscar o maior grau de harmonização possível com a Palavra de Deus. Isto posto, as letras que verbalizamos em nossa hinografia, às quais a melodia deve sujeitar-se, devem refletir, na extensão integral do seu conteúdo, o majestoso caráter de Deus, acumpliciado aos seus diversos e gloriosos atributos; a pessoa divina do Senhor Jesus Cristo e a salvífica obra realizada por Ele realizada na cruz do calvário; a obra gloriosa do Espírito na aplicação redentiva do sacrifício do Filho de Deus e a iluminadora direção espiritual que Ele promove no seio da igreja, na qual ele habita permanentemente.
Em suma: devemos entoar louvores que sejam bíblico-teologicamente consistentes, que espelhem as Escrituras Sagradas; e, ato contínuo, não se percam em humanismos inapropriados e insuportáveis enveredamentos por um romantismo sentimentalista, mais revelador do subjetivismo humano que da plena munificência do Deus Criador/Sustentador de todas as coisas e, de igual modo, Redentor do seu povo.
Não quer isso dizer, obviamente, que de nossa hinografia cúltica devam estar banidas as indeléveis marcas do nosso ser/estar no mundo como igreja sofredora e triunfante, mas sim que o foco deve centrar-se em Deus, na Trindade santa e bendita, que, antes da fundação do mundo, nos amou e em nosso favor arquitetou o mais sublime, perfeito e eterno plano de salvação.
Todo esse conteúdo de excelência, que deve nortear a adoração comunitária que nós, como igreja redimida, somos chamados a oferecer ao nosso Deus, a meu ver, delineia-se, superlativamente, na bela e bíblica letra que emblematiza o hino de número três de nosso Novo Cântico, cancioneiro sacro adotado pela Igreja Presbiteriana do Brasil.
O título já sinaliza, claramente, para aquela espécie de adoração que apresentamos ao Senhor no exato momento em que, convocados por Ele, comparecemos ao culto público para, como explana a Confissão de Fé de Westminster, lermos a sua Palavra, ouvirmos a sua fiel e expositiva pregação, o adorarmos com o nosso louvor coletivo e participarmos, reverente e conscientemente, da correta administração das ordenanças do batismo e da ceia memorial da nova aliança.
Claro que, numa perspectiva mais ampla, a nossa adoração deve ser a expressão global de toda a nossa vida, em todos os âmbitos em que ela se manifesta: familiar, profissional, cultural, político, dentre outros que formam o multifacetado compósito da nossa existência. Enfim, a adoração encarada como sinônimo irrasurado de uma vida que, “na comida, na bebida ou em outra coisa qualquer”, busca a justa promoção da glória de Deus, de conformidade com a santa exortação feita pelo apóstolo Paulo na segunda epístola que endereçou aos cristãos da cidade de Corinto.
Sem isso, a adoração que se presta a Deus, no âmbito mais restrito do culto público, não passa de pura e vazia encenação, ritual inteiramente desvalioso; e, pior que isso, exposto à desaprovação e ao certeiro ajuizamento de Deus. Contudo, a adoração pública ao Senhor, manifestada no ajuntamento solene do seu povo, deve pautar-se pelas seguras prescrições escriturísticas.
No hino em tela, aprendemos algumas verdades sobremaneiras edificantes. Composto por três estrofes, o hino mostra como, no culto público que a Deus oferecemos, Pai, Filho e Espírito Santo estão, umbilicalmente, unidos. Vejamos, pois, como tal verdade consorcia-se no hino/poema.
De pronto, emerge, na parte introdutória do hino, o caráter teocêntrico do culto. O culto é prestado, exclusivamente, a Deus, e a mais ninguém, por isso não cabem nele as homenagens aos homens, os louvores aos homens, as celebrações aos homens, sejam eles quais forem. Insistir em ignorar esse ponto seminal é quebrar, flagrantemente, o primeiro mandamento, transgredir toda a Lei do Senhor, cometer idolatria e abominação contra o Altíssimo.
O hino principia realçando a eternidade de Deus, a espantosa realidade do seu ser incriado e auto-existente. No culto, não estamos diante de um ser igual a nós, portador das mesmas mazelas e imperfeições que nos essencializam, mas sim diante do Deus eterno, Criador e Sustentador de tudo, poderoso Redentor da sua igreja, puro amor e, ao mesmo tempo, fogo consumidor, habitante de luz inacessível, invisível, mas real, chamado pelos antigos profetas como Deus grande e terrível.
É diante desse Deus eterno, Pai das luzes, imutável e sem variação, que nos prostramos quando, congregados, prestamos-lhe culto de louvor, adoração, honra e gratidão pelo que Ele é e pelo que faz, pelo seu controle soberano sobre a história. Diante, pois, desse Deus tão grandioso, nenhuma atitude poderia ser mais conveniente e bíblico-teologicamente prescrita do que a humildade, a submissão e a reverência deleitosa. No culto ao Senhor, não há lugar para soberba, orgulho, altivez, comportamentos abominados por Deus e seriamente expostos à sua mais veemente condenação.
A humildade é o único modo aceitável de nos aproximarmos de Deus, dado que ele é o Senhor, nós somos servos; ele é Deus, nós somos homens; ele é santo, nós somos pecadores; ele é Todo-Poderoso, e nós, quando muito, apenas pó e cinza. No culto público, olhamos para o Senhor com esperança, não a esperança humana, que é a última que morre no dizer popular, mas sim aquela que, conforme a inspirada asserção do apóstolo Paulo, “não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Romanos 5.5).
Ainda na monumental epístola de Paulo aos Romanos, deparamo-nos com um texto deveras consolador para os nossos corações, frequentemente açoitados pelas encapeladas ondas do tempetuoso mar da vida: “E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer; para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo” (Romanos 15.13).
Nós não sabemos cultuar ao Senhor como convém. Carentes de uma segura e sólida orientação, nossos corações, “fábrica de ídolos”, no sábio dizer de João Calvino, forjarão cultos estranhos, profanos, à imagem e semelhança da nossa vã imaginação. Também aqui não vale o sofisma, segundo o qual, se formos sinceros e se nos sentirmos bem com o que fazemos no culto, então, podemos tomar por certo de que Deus, de igual modo, se agradará e aprovará as nossas supostas piedosas intenções. Conquanto devamos em tudo cultivar “a verdade no íntimo” (Salmo 51.6a) e a sinceridade como um dos princípios motivacionais básicos das nossas atitudes, o compromisso inamovível de Deus é com a sua Palavra, pela qual ele vela, a fim de conferir a ela pleno e cabal cumprimento (Jeremias 1.12). Assim, o árbitro final das nossas consciências não deve ser o solo escorregadio da nossa sinceridade, mas sim a rocha inabalável da Palavra do Senhor.
Eis a razão pela qual somente no Santo Livro de Deus, nas Escrituras Sagradas, na Palavra ditada pelo Espírito Santo, é que encontramos a instrução segura e a direção sábia para cultuarmos a Deus da forma como ele mesmo quer ser cultuado, sendo essa prerrogativa indisputável dEle, dado que é Deus, Senhor excelso e soberano controlador da história. Teocêntrico, porque indesmentivelmente dirigido a Deus, o culto, de igual modo, reveste-se de uma dimensão ontológica de cristocentricidade; e, por uma razão muito simples, ninguém pode aproximar-se de Deus sem a mediação de Jesus Cristo.
Jesus Cristo é quem nos propicia a graça de cultuarmos ao Pai; o privilégio de nos assentarmos aos seus pés benditos; e, ato contínuo, deleitarmo-nos com a sua doutrina e com os seus maravilhosos ensinamentos. Em Cristo e por meio de Cristo nós experimentamos crescimento na graça, na fé e no conhecimento de Deus, visto que no Filho de Deus “reside, corporalmente, toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2.9).
Ao cultuarmos a Deus, por meio de Jesus Cristo, no Dia do Senhor, nós descansamos dos nossos labores cotidianos e repousamos nos braços do Filho de Deus, a ele entregando os nossos cansaços, as nossas angústias cotidianas, “mirando os ricos bens entesourados/na plenitude do teu vasto amor”.
Teocêntrico, cristocêntrico, o culto a Deus, a adoração comunitária da igreja de Jesus Cristo ao Deus Todo-Poderoso, somente pode ser efetivamente realizada no poder do Espírito Santo, pois é o Santo Espírito, parácleto bendito, habitação permanente de Deus conosco, que “dissipa as trevas dos nossos corações”, por meio do “celeste ensino”, da aplicação perfeita e iluminadora das sublimes verdades da Lei de Deus aos nossos corações.
Na economia salvífica da Trindade, o Espírito Santo ocupa papel de ostensivo relevo. É o Espírito Santo quem dobra as resistências do coração do pecador e o leva, arrependido, a confiar somente em Cristo para a sua salvação. É o Espírito Santo quem nos ilumina a mente, a fim de podermos compreender a Palavra de Deus; Palavra que ele mesmo inspirou sobrenaturalmente. Professor incomparável e divino, é o Espírito Santo quem “ativa as forças da memória”, a fim de que possamos, permanentemente, voltar ao nosso tesouro de fé, inviolável patrimônio da nossa alma redimida.
Impulsionados, pois, por tão poderoso e Santo Espírito, podemos cultuar a Deus de modo fervoroso, racional, com intenso fogo na alma e sobrante entendimento na mente, degustando um conhecimento de Deus que o próprio Espírito Santo destila em toda a extensão do nosso ser, não de forma mística, mas por meio da instrumentalidade da Palavra.
Nunca é demais lembrarmo-nos, recorrendo a João Calvino, de que o divórcio entre a Escritura Sagrada e o Espírito Santo é aventura temerária promovida por fanáticos, os quais, pretextando espiritualidade superior, findam solapando as bases seminais da suficiência das Escrituras Sagradas. Ao Pai, por meio do Filho, na capacitação do Espírito Santo, eis a natureza solene e comunitária da igreja em adoração, esplendidamente espelhada num hino admiravelmente consorciador de beleza estética e infrangível conteúdo bíblico.
Que seja sempre assim a hinografia materializada em nossos cultos. Que haja em nós discernimento suficiente para não emprestarmos os nossos lábios para a reprodução de letras frívolas, conteudisticamente pobres e doutrinariamente desarmonizadas com a Palavra de Deus; que pouco ou quase nada dizem acerca de Deus, de Jesus Cristo e do Espírito Santo, das antigas e gloriosas doutrinas da graça, imperecível tesouro da nossa revelada, histórica e santíssima fé. SOLI DEO GLORIA NUC ET SEMPER.
Em suma: devemos entoar louvores que sejam bíblico-teologicamente consistentes, que espelhem as Escrituras Sagradas; e, ato contínuo, não se percam em humanismos inapropriados e insuportáveis enveredamentos por um romantismo sentimentalista, mais revelador do subjetivismo humano que da plena munificência do Deus Criador/Sustentador de todas as coisas e, de igual modo, Redentor do seu povo.
Não quer isso dizer, obviamente, que de nossa hinografia cúltica devam estar banidas as indeléveis marcas do nosso ser/estar no mundo como igreja sofredora e triunfante, mas sim que o foco deve centrar-se em Deus, na Trindade santa e bendita, que, antes da fundação do mundo, nos amou e em nosso favor arquitetou o mais sublime, perfeito e eterno plano de salvação.
Todo esse conteúdo de excelência, que deve nortear a adoração comunitária que nós, como igreja redimida, somos chamados a oferecer ao nosso Deus, a meu ver, delineia-se, superlativamente, na bela e bíblica letra que emblematiza o hino de número três de nosso Novo Cântico, cancioneiro sacro adotado pela Igreja Presbiteriana do Brasil.
O título já sinaliza, claramente, para aquela espécie de adoração que apresentamos ao Senhor no exato momento em que, convocados por Ele, comparecemos ao culto público para, como explana a Confissão de Fé de Westminster, lermos a sua Palavra, ouvirmos a sua fiel e expositiva pregação, o adorarmos com o nosso louvor coletivo e participarmos, reverente e conscientemente, da correta administração das ordenanças do batismo e da ceia memorial da nova aliança.
Claro que, numa perspectiva mais ampla, a nossa adoração deve ser a expressão global de toda a nossa vida, em todos os âmbitos em que ela se manifesta: familiar, profissional, cultural, político, dentre outros que formam o multifacetado compósito da nossa existência. Enfim, a adoração encarada como sinônimo irrasurado de uma vida que, “na comida, na bebida ou em outra coisa qualquer”, busca a justa promoção da glória de Deus, de conformidade com a santa exortação feita pelo apóstolo Paulo na segunda epístola que endereçou aos cristãos da cidade de Corinto.
Sem isso, a adoração que se presta a Deus, no âmbito mais restrito do culto público, não passa de pura e vazia encenação, ritual inteiramente desvalioso; e, pior que isso, exposto à desaprovação e ao certeiro ajuizamento de Deus. Contudo, a adoração pública ao Senhor, manifestada no ajuntamento solene do seu povo, deve pautar-se pelas seguras prescrições escriturísticas.
No hino em tela, aprendemos algumas verdades sobremaneiras edificantes. Composto por três estrofes, o hino mostra como, no culto público que a Deus oferecemos, Pai, Filho e Espírito Santo estão, umbilicalmente, unidos. Vejamos, pois, como tal verdade consorcia-se no hino/poema.
De pronto, emerge, na parte introdutória do hino, o caráter teocêntrico do culto. O culto é prestado, exclusivamente, a Deus, e a mais ninguém, por isso não cabem nele as homenagens aos homens, os louvores aos homens, as celebrações aos homens, sejam eles quais forem. Insistir em ignorar esse ponto seminal é quebrar, flagrantemente, o primeiro mandamento, transgredir toda a Lei do Senhor, cometer idolatria e abominação contra o Altíssimo.
O hino principia realçando a eternidade de Deus, a espantosa realidade do seu ser incriado e auto-existente. No culto, não estamos diante de um ser igual a nós, portador das mesmas mazelas e imperfeições que nos essencializam, mas sim diante do Deus eterno, Criador e Sustentador de tudo, poderoso Redentor da sua igreja, puro amor e, ao mesmo tempo, fogo consumidor, habitante de luz inacessível, invisível, mas real, chamado pelos antigos profetas como Deus grande e terrível.
É diante desse Deus eterno, Pai das luzes, imutável e sem variação, que nos prostramos quando, congregados, prestamos-lhe culto de louvor, adoração, honra e gratidão pelo que Ele é e pelo que faz, pelo seu controle soberano sobre a história. Diante, pois, desse Deus tão grandioso, nenhuma atitude poderia ser mais conveniente e bíblico-teologicamente prescrita do que a humildade, a submissão e a reverência deleitosa. No culto ao Senhor, não há lugar para soberba, orgulho, altivez, comportamentos abominados por Deus e seriamente expostos à sua mais veemente condenação.
A humildade é o único modo aceitável de nos aproximarmos de Deus, dado que ele é o Senhor, nós somos servos; ele é Deus, nós somos homens; ele é santo, nós somos pecadores; ele é Todo-Poderoso, e nós, quando muito, apenas pó e cinza. No culto público, olhamos para o Senhor com esperança, não a esperança humana, que é a última que morre no dizer popular, mas sim aquela que, conforme a inspirada asserção do apóstolo Paulo, “não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Romanos 5.5).
Ainda na monumental epístola de Paulo aos Romanos, deparamo-nos com um texto deveras consolador para os nossos corações, frequentemente açoitados pelas encapeladas ondas do tempetuoso mar da vida: “E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer; para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo” (Romanos 15.13).
Nós não sabemos cultuar ao Senhor como convém. Carentes de uma segura e sólida orientação, nossos corações, “fábrica de ídolos”, no sábio dizer de João Calvino, forjarão cultos estranhos, profanos, à imagem e semelhança da nossa vã imaginação. Também aqui não vale o sofisma, segundo o qual, se formos sinceros e se nos sentirmos bem com o que fazemos no culto, então, podemos tomar por certo de que Deus, de igual modo, se agradará e aprovará as nossas supostas piedosas intenções. Conquanto devamos em tudo cultivar “a verdade no íntimo” (Salmo 51.6a) e a sinceridade como um dos princípios motivacionais básicos das nossas atitudes, o compromisso inamovível de Deus é com a sua Palavra, pela qual ele vela, a fim de conferir a ela pleno e cabal cumprimento (Jeremias 1.12). Assim, o árbitro final das nossas consciências não deve ser o solo escorregadio da nossa sinceridade, mas sim a rocha inabalável da Palavra do Senhor.
Eis a razão pela qual somente no Santo Livro de Deus, nas Escrituras Sagradas, na Palavra ditada pelo Espírito Santo, é que encontramos a instrução segura e a direção sábia para cultuarmos a Deus da forma como ele mesmo quer ser cultuado, sendo essa prerrogativa indisputável dEle, dado que é Deus, Senhor excelso e soberano controlador da história. Teocêntrico, porque indesmentivelmente dirigido a Deus, o culto, de igual modo, reveste-se de uma dimensão ontológica de cristocentricidade; e, por uma razão muito simples, ninguém pode aproximar-se de Deus sem a mediação de Jesus Cristo.
Jesus Cristo é quem nos propicia a graça de cultuarmos ao Pai; o privilégio de nos assentarmos aos seus pés benditos; e, ato contínuo, deleitarmo-nos com a sua doutrina e com os seus maravilhosos ensinamentos. Em Cristo e por meio de Cristo nós experimentamos crescimento na graça, na fé e no conhecimento de Deus, visto que no Filho de Deus “reside, corporalmente, toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2.9).
Ao cultuarmos a Deus, por meio de Jesus Cristo, no Dia do Senhor, nós descansamos dos nossos labores cotidianos e repousamos nos braços do Filho de Deus, a ele entregando os nossos cansaços, as nossas angústias cotidianas, “mirando os ricos bens entesourados/na plenitude do teu vasto amor”.
Teocêntrico, cristocêntrico, o culto a Deus, a adoração comunitária da igreja de Jesus Cristo ao Deus Todo-Poderoso, somente pode ser efetivamente realizada no poder do Espírito Santo, pois é o Santo Espírito, parácleto bendito, habitação permanente de Deus conosco, que “dissipa as trevas dos nossos corações”, por meio do “celeste ensino”, da aplicação perfeita e iluminadora das sublimes verdades da Lei de Deus aos nossos corações.
Na economia salvífica da Trindade, o Espírito Santo ocupa papel de ostensivo relevo. É o Espírito Santo quem dobra as resistências do coração do pecador e o leva, arrependido, a confiar somente em Cristo para a sua salvação. É o Espírito Santo quem nos ilumina a mente, a fim de podermos compreender a Palavra de Deus; Palavra que ele mesmo inspirou sobrenaturalmente. Professor incomparável e divino, é o Espírito Santo quem “ativa as forças da memória”, a fim de que possamos, permanentemente, voltar ao nosso tesouro de fé, inviolável patrimônio da nossa alma redimida.
Impulsionados, pois, por tão poderoso e Santo Espírito, podemos cultuar a Deus de modo fervoroso, racional, com intenso fogo na alma e sobrante entendimento na mente, degustando um conhecimento de Deus que o próprio Espírito Santo destila em toda a extensão do nosso ser, não de forma mística, mas por meio da instrumentalidade da Palavra.
Nunca é demais lembrarmo-nos, recorrendo a João Calvino, de que o divórcio entre a Escritura Sagrada e o Espírito Santo é aventura temerária promovida por fanáticos, os quais, pretextando espiritualidade superior, findam solapando as bases seminais da suficiência das Escrituras Sagradas. Ao Pai, por meio do Filho, na capacitação do Espírito Santo, eis a natureza solene e comunitária da igreja em adoração, esplendidamente espelhada num hino admiravelmente consorciador de beleza estética e infrangível conteúdo bíblico.
Que seja sempre assim a hinografia materializada em nossos cultos. Que haja em nós discernimento suficiente para não emprestarmos os nossos lábios para a reprodução de letras frívolas, conteudisticamente pobres e doutrinariamente desarmonizadas com a Palavra de Deus; que pouco ou quase nada dizem acerca de Deus, de Jesus Cristo e do Espírito Santo, das antigas e gloriosas doutrinas da graça, imperecível tesouro da nossa revelada, histórica e santíssima fé. SOLI DEO GLORIA NUC ET SEMPER.
JOSÉ MÁRIO DA SILVAPrebítero da Igreja Presbiteriana de Campina Grande
Docente da UFCG
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